terça-feira, 22 de setembro de 2009

NOVAMENTE A TRUCULENCIA

TERÇA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 2009

Brasil Atual: Arrancam os feridos que estão nos hospitais, afirma hondurenha

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América Latina

Integrante da Via Campesina relata à Rede Brasil Atual que está refugiada em uma casa sem saber se poderá sair. Ela confirma que há gente sendo levada a força para um estádio

Por: João Peres [...]

Pessoas trancadas nas casas, repressão policial nas ruas, incerteza em relação ao que ocorrerá nos próximos dias. Esse é o resumo da vida dos moradores da capital hondurenha Tegucigalpa nesta terça-feira (22).

Depois que o presidente deposto Manuel Zelaya conseguiu retornar ao país, abrigando-se na embaixada brasileira, o governo golpista ordenou a volta do toque de recolher e está reprimindo aqueles que tentam se aproximar do edifício diplomático.

Wendy Cruz, integrante da Via Campesina em Honduras, relatou por telefone à Rede Brasil Atual que está refugiada desde a manhã desta terça em uma casa de Tegucigalpa juntamente com outros integrantes dos movimentos de resistência ao golpe. Agora, ali e em outras partes da cidade, muitas pessoas não podem sair às ruas nem para buscar alimentos.

“Vamos ver se podemos chegar às nossas casas, mas a polícia detém qualquer veículo e qualquer pessoa. Muitos estamos aqui reclusos. É uma região da cidade na qual há muitos militares porque está perto do hospital-escola”, afirma.

Do hospital, aliás, ela relata que são levados muitos dos feridos, e que é complicado saber o destino deles pela dificuldade de comunicação. Wendy Cruz sabe, no entanto, que muitos detidos são conduzidos para o estádio Chochi Sosa, que nas redes sociais da internet já é chamado pelos hondurenhos de "campo de concentração" do regime golpista.

O nervosismo e a incerteza estão evidentes na voz da integrante da Via Campesina. “Aqui, a ordem do dia são os militares, manobrando contra o povo hondurenho. Estamos vendo o que vamos fazer, como vamos nos organizar”, relata.

Enquanto buscam organização, os movimentos de resistência enfrentam as dificuldades geradas pelos golpistas: cortes de luz e de telefone, barreiras policiais montadas em todas as entradas de Tegucigalpa para evitar que pessoas venham de outras partes do país. Wendy Cruz resume o panorama: “Não querem deixar o poder por bem, estão esquecendo o povo. Não sabemos o que vai acontecer porque estamos em uma situação terrível. Não deixam circular os organismos de direitos humanos, há muitos feridos”.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

aprender com o passado: Lenin o que fazer

MENSAGEM AO PARTIDO
PED 2009

APRENDER COM O PASSADO DE 29 ANOS
PENSANDO O FUTURO SOCIALISTA

O que se pode realizar quando a história se move para a frente e o pensamento revolucionário é exposto a todas as tensões de forças contrárias, da mais odiosa opressão de um regime autocrático cruel e de sua terrível repressão policial às inquietações da intelligentsia, dos estudantes, dos radicais de uma burguesia impotente e, em particular, das pressões crescentes das massas populares, do campo e da cidade! (Lenin, O QUE FAZER?)

I – CONUNTURA: a realidade justifica o que precisamos fazer e o que precisamos mudar
A crise global e o Brasil: a natureza da crise 1
Ninguém questiona que a instabilidade do sistema financeiro dos EUA se alastrou pelo mundo e já afeta toda a economia mundial, tampouco se questiona sua causa imediata: a irresponsabilidade de agentes do mercado financeiro e a falta de regulamentação eficaz sobre seu comportamento. O que está em debate é a natureza e os desdobramentos da atual crise. Num pólo estão os que veem nela apenas uma ocorrência cíclica normal no sistema capitalista, cujo crescimento sempre alterna tempos de expansão e de contração da economia. No outro pólo, estão os que percebem nela o limite final do sistema econômico movido pelo produtivismo consumista que tem como meta o lucro para o capital, ou seja, o capitalismo.
Em favor do primeiro argumento, pesa o fato de já se registrarem 46 crises no sistema capitalista desde 1790. Segundo a teoria econômica clássica, as crises são inerentes ao sistema de mercado pois funcionam como fator de seu aperfeiçoamento ao obrigá-lo a corrigir seus erros e exageros. Para essa corrente de pensamento, que orienta os global players da economia e predomina entre os analistas econômicos que se manifestam pelos principais meios de comunicação de massa, o mais importante hoje é evitar o “alarmismo” e recuperar a confiança no setor financeiro. Em termos práticos, isso significa injetar uma enorme quantidade de fundos públicos em socorro de instituições financeiras e empresas para tranquilizar o mercado e assim reativar a economia. Seguindo essa receita, em breve passará a turbulência e o capitalismo seguirá sua trajetória histórica, ainda que deva se submeter a maior controle externo – o que colocaria um ponto final no neoliberalismo que marcou as três últimas décadas. Esta foi a tônica da cobertura dada à reunião do G-20, em Londres, no início de abril.
Em favor da argumentação contrária, pesa o fato de estar esta crise econômico-financeira embutida num conjunto de crises que a tornam muitíssimo mais grave. O déficit energético, o aquecimento global, a perda da biodiversidade, a escassez de água, a ausência de governança global e o esvaziamento ético da economia e da política, são sintomas de uma crise que incide na própria estrutura do sistema: o mercado produtivista e consumista regido pela lógica do lucro. Essa visão orienta os Movimentos Sociais altermundistas que se fizeram presentes no Fórum Social Mundial e tem sido elaborada por intelectuais a eles ligados.

Crise do sistema produtivista / consumista.
Estamos, sem dúvida, imersos numa grave crise financeira. Basta ter presente que enquanto o PIB mundial alcançou quase US$ 55 trilhões, em 2007, o volume dos direitos negociados no sistema financeiro mundial chegou a quase US$ 600 trilhões. Isso explica tanto o crescimento das grandes fortunas mundiais nas três últimas décadas, quanto a súbita diminuição daquelas que estavam fundadas em aplicações financeiras especulativas. (Ver o quadro da Revista Forbes). Tal fato se deve a que o mesmo indicador do valor (a moeda expressa em US$) aplica-se a duas realidades muito diferentes: o volume de bens e serviços efetivamente produzidos, e a compra e venda de direitos que são repassados sem que nenhum novo bem tenha sido produzido (por isso, chamados de derivativos). Essa forma mais avançada do capitalismo pode ser resumida no parâmetro ideal das aplicações financeiras: lucrar sem envolver-se com a produção.
De fato, o êxito do sistema de mercado regido pela lógica capitalista reside na sua enorme capacidade de produzir riquezas tendo em vista a possibilidade do lucro. Seu primeiro grande teórico, A. Smith, já dizia que não é o altruísmo e sim o espírito egoísta de lucro, que faz o padeiro levantar-se de madrugada para vender o pão logo pela manhã. O empresário usará todos os meios a seu alcance para obter lucro na sua atividade econômica: contratará ajudantes, inventará novas técnicas de produção e de gestão, buscará o apoio do Poder público para o seu negócio, acionará mecanismos de propaganda do seu produto, encontrará meios de financiar suas vendas; enfim, estará sempre buscando o lucro que provém da venda de sua produção – seja ela de bens ou serviços os mais diversos.
O problema do empresário reside no fato de que ele não é o único a oferecer bens e serviços no mercado: inúmeros outros empresários também almejam auferir lucro e tornam-se seus concorrentes. Mas o que é dificuldade para o empresário individual é a vantagem do sistema como um todo: a concorrência que lhe imprime um dinamismo intrínseco. O sistema de mercado não pode estabilizar-se, sob pena de não mais funcionar. Ele precisa estar sempre em expansão, isto é, integrar um número cada vez maior de pessoas em suas relações de compra e venda. O capital coloniza espaços cada vez maiores do mercado, que por sua vez coloniza a atividade elementar de base que desde a “revolução neolítica”, há dez mil anos atrás, é regida pelas relações de reciprocidade “dar / receber / retribuir”. Pois bem. Em pouco mais de cinco séculos o sistema capitalista de mercado gradualmente incorporou todo esse setor, de modo a alcançar hoje praticamente toda a população mundial. Até mesmo as comunidades fechadas, com um sistema autônomo de produção e consumo fundado na reciprocidade, têm alguma válvula de comunicação com o mercado, para o qual escoam a parte da sua produção necessária à aquisição dos bens que elas não conseguem produzir.
Esse dinamismo, contudo, só é possível na medida em que são ignorados os efeitos não-econômicos do processo de produção e consumo de bens regido pela lógica do lucro. A produção de lixo, o desperdício de matérias-primas e de energia, a destruição da biodiversidade, a degradação dos solos e das águas, os danos à saúde humana e animal, a exclusão social e a revolta dos excluídos, são considerados como externalidades, isto é, não devem ser considerados pela teoria econômica. Porque não os contabiliza, a economia capitalista transforma em lucro todos os bens e serviços que produz e vende. O problema, agora, é que, a se manter a mesma lógica econômica, as externalidades se voltarão contra o sistema e o travarão. O déficit energético, o aquecimento global e a desumanização das relações sociais estão hoje a apontar que o sistema capitalista de mercado está prestes a esgotar sua capacidade de produzir riqueza.

Para sair da crise: bases teóricas
Fomos acostumados a ver a economia como uma área de conhecimento especializado, sobre a qual só gente com muito estudo (de preferência, numa universidade dos EUA) pode se pronunciar. Esquecemos que a teoria econômica nasceu como Economia Política, ao desligar-se da Ética que até o século 18 regulava o mercado. Só recentemente o pensamento neoliberal separou a Economia como ciência do funcionamento do mercado, e a Política como ciência que estuda o funcionamento do Estado. A eclosão da crise implode essa compartimentação de saberes e obriga a alargar o conceito de Economia, para que as relações sociais de produção e distribuição das riquezas sejam inseridas no âmbito das relações dos humanos com a Terra, relações estas que não podem perder seu caráter ético.
Essa mudança na teoria econômica permite-nos descortinar um cenário inteiramente diferente daquele que nos é traçado pelos economistas do sistema. Ao privilegiar a lógica do valor de uso sobre a lógica do valor de troca, o mercado se tornará simples regulador entre a oferta e a procura, perdendo sua capacidade de gerar lucro para quem transforma dinheiro em capital. Esboça-se então um modo de produção e consumo no qual o mercado não seja a única instituição reguladora da produção e distribuição de bens, mas se coadune a outras instituições como a economia solidária, a cooperativa e o planejamento estatal e no qual seja respeitado o princípio da subsidiariedade: não assuma a instância maior o que a instância menor for capaz de fazer.
Talvez o pensamento e o exemplo de Ghandi – que faz a ponte entre a racionalidade ocidental e a sabedoria indiana – venha a servir como inspiração para um modo de produção voltado não para o crescimento econômico, mas para o bem-estar de todo ser vivo. Seu ideal humanista de simplicidade de vida, de não-violência (inclusive contra os animais, daí sua prática vegetariana) de autonomia local e regional, pode ser a base de uma nova economia: uma economia que abdica da utopia produtivista do progresso sem fim, para alcançar a utopia da harmonia universal com toda a comunidade de vida – a bela e provocante expressão usada na Carta da Terra para designar o conjunto dos seres viventes, superando o especismo humano.
Em outras palavras: a teoria mostra o caminho de superação da crise sistema passa pela redução da produção e do consumo de bens materiais e o aumento da produção de bens imateriais, acompanhada da partilha equitativa dos bens já disponíveis. Para sair da crise, há que pensar unidades de produção locais, articuladas em rede, com baixo consumo de energia (em relação aos parâmetros atuais nos países e setores ricos) e submissão aos imperativos éticos, pois não cabe economizar no custo monetário quando isso implica custo ecológico ou humano.
Será isso uma utopia? Sim, mas é uma utopia que merece maior credibilidade do que as utopias da tecnologia onipotente, do progresso sem fim e da satisfação dos desejos por meio do consumo de mercadorias, que leva a Dubai.

Para sair da crise: pistas práticas
O Fórum Social Mundial realizado em Belém, em janeiro deste ano, mostrou que estão sendo dados passos importantes em direção a esse novo modo de produção e consumo. Percebê-los é o desafio de quem precisa entender os sinais dos tempos. Um destes é a economia solidária, que avança em diferentes partes do nosso Planeta. Ela não quer ser uma forma de política social – focada no atendimento às necessidades de pessoas excluídas do mercado – mas política econômica – um novo modo de produzir, distribuir e consumir bens e serviços.
Estima-se que existem no mínimo 22 mil empreendimentos de economia solidária no Brasil, onde trabalham cerca de 2 milhões de pessoas. São, em sua grande maioria, pequenas unidades de produção e/ou consumo. A variedade é grande: empresas falidas ocupadas pelos empregados, assentamentos rurais, cooperativas de produção artesanal, grupos de coletadores de material reciclável, cooperativas de serviços, bancos com moeda local e muitos empreendimentos de geração de renda. Esses empreendimentos enfrentam inúmeras dificuldades para sobreviverem no mercado regido pela lógica concorrencial dos interesses privados. Às dificuldades de ordem jurídica, referentes à obtenção do estatuto legal para integrar-se à economia formal (v.g. emitir nota fiscal, participar de licitações), acrescentam-se as dificuldades de formação para atuar segundo a lógica da solidariedade e não da lógica concorrencial vigente no mercado.
Neste contexto, o Programa Economia Solidária em Desenvolvimento do Ministério do Trabalho e a I Conferência Nacional de Economia Solidária indicam a contribuição do Governo para um modo de produção alternativo ao capitalismo, onde os próprios trabalhadores e trabalhadoras assumem coletivamente a gestão de seus empreendimentos econômicos.
Para superar a crise global, porém, a economia solidária precisará passar do nível micro ao nível macro: uma coisa são os empreendimentos locais, que agrupam no máximo algumas centenas de pessoas trabalhando; outra coisa é sua capacidade de um dia vir a atender as necessidades de 7 bilhões de pessoas, muitas delas querendo satisfazer os desejos atiçados pela propaganda veiculada pelo sistema capitalista. Esse salto não significa gerar empresas gigantescas e transnacionais, mas desenvolver a moderna organização em rede: inúmeras pequenas unidades autônomas quanto à sua gestão mas articuladas entre si na consecução de projetos comuns. “Pensar globalmente e agir localmente” significa, hoje mais do que antes, ter um pé firme na base local, o outro caminhando para uma articulação regional, e os olhos na articulação nacional, continental e planetária. A gestão dessa rede só será efetiva se basear-se numa verdadeira democracia na qual o poder econômico não tenham peso algum e as minorias sejam respeitadas dentro dos rumos traçados pela maioria.
Outra dificuldade a ser vencida reside no campo dos valores que regem o comportamento humano. Desde o Renascimento europeu, a concepção da pessoa humana como indivíduo livre tornou-se a base dos valores e direitos que regulam as nossas relações com outras pessoas e com a natureza. Essa concepção veio de par com a economia de mercado, que a levou ao extremo do egocentrismo. Assim como o egocentrismo deu a forma moral ao modo capitalista de produção e consumo, um novo paradigma de valores deve acompanhar o modo de produção e consumo ecológico e solidário. É o que vem sendo chamado de consciência planetária: o ser humano como parte da grande comunidade de vida do Planeta. Essa nova forma de consciência precisa apoiar-se numa ética universalista (que inclua os direitos da Terra) e só terá a ganhar se gerar uma espiritualidade que a anime desde seu interior.
1. Pedro A. Ribeiro de Oliveira/ PUC-Minas e ISER-Assessoria – Análise Conjuntura CNBB NORTE II
A REALIDADE NACIONAL E NOSSAS TAREFAS NO PARÁ
Se a união é verdadeiramente necessária, escrevia Marx aos dirigentes do partido, façam acordos para realizar os objetivos práticos do movimento, mas não cheguem, ao ponto de fazer comércio dos princípios, nem façam "concessões" teóricas.

Aos seis anos do governo Lula e na perspectiva eleitoral da sucessão em 2010, devemos nos preparar para rediscutir, debater, reescrever nossa história e os compromissos do PT para o futuro, de início devemos assegurar que o PT é socialista
Alterar os métodos de relacionamento interno no Partido e as relações institucionais e políticas de alianças devem superar as negociatas e o entreguismo de nossos princípios, fortalecendo desde agora a conquista da hegemonia, afirmando nossos valores e recuperando credibilidade na sociedade. Nosso maior desafio é como fazer uma leitura correta da avaliação popular tão positiva do Presidente Lula, avançando na intelecto e na subjetividade da sociedade civil, para afirmar que o Presidente Lula é fruto da história democrática do PT. Precisamos desmistificar o lulismo, e esta relação de que Lula é maior de que o governo e maior do que o PT.
No Pará, estes três anos e meio do governo de Ana Júlia e do PT, re-orientaram a ação político-administrativa, priorizando a execução de políticas sociais de inclusão social e econômica dos setores mais pobres da sociedade paraense e combinando o enfrentamento político com os setores mais atrasados da economia do Estado, os madeireiros.
O governo do PT tem compromissos com o meio ambiente e com a maioria da sociedade paraense. O Programa Bolsa Trabalho, vêm se afirmando com todas as dificuldades pertinentes a uma política revolucionária e inclusiva. Combinando a estratégia de desenvolvimento do governo federal, o PAC e outras iniciativas de sucesso, o governo de Ana Júlia e do PT promoveu o PTP envolvendo mais de 60.000 pessoas nas definições das políticas públicas que resultaram na aprovação do PPA.
Asfalto participativo em mais de cem municípios e cidades do Estado, o programa Kits escolares, o repasse fundo a fundo dos recursos da SEDUC e da SESPA, para atender as necessidades dos municípios e da população, embora as críticas permanentes da imprensa local, tentem mostrar uma imagem negativa e de incompetência de nosso governo, investimos na segurança pública, em transporte, concurso público e contratação para o aumento do efetivo policial, capacitação, reforma e ampliação de delegacias públicas; ampliação e reforma da Santa Casa de Misericórdia, modernização do Ophir Loyola e do tratamento do Câncer, priorização na gestão e no funcionamento dos Hospitais Regionais e do Hospital Metropolitano de Belém.
Aqui não pretendemos mostrar um balanço do governo estadual e sim demonstrar que os recursos públicos estão voltados para melhorar a qualidade de vida, a democracia e a participação do povo.
Hegemonizar nossas políticas no seio da sociedade brasileira é um exercício que requer uma nova correlação de forças no PT. Devemos avançar nas conquistas e no modelo de desenvolvimento do País, a política de juros do banco central, as relações com diversos setores da economia, como os fabricantes de veículos e máquinas, com os banqueiros, com o agrobusiness e outros, deve ser alterada, estabelecendo novos referenciais econômicos, e não mais a facilidade para atores que só fazem ganhar e enriquecer cada vez mais, seja nas crises, seja nos ciclos abundantes da economia.
No Brasil, como na América Latina e outras partes do mundo, os capitalistas vivem às custas do Estado, ente tão criticado pelas mídias e atores líderes do capital. Os balancetes destes setores aumenta a cada semestre, e eles a cada momento estudam como prejudicar cada vez mais os trabalhadores e a democracia. Demissões, aumento de preços, isenção do IPI, são amostras do como a iniciativa privada se comporta frente ao Estado Brasileiro governado pelo PT e pelo Presidente Lula.
Devemos fazer nossa militância organizando o povo, e qual é o povo que devemos organizar e defender? Os excluídos, os pobres, os negros, os índios, as mulheres, a juventude, as crianças. Solidariedade significa amar os outros, não existe solidariedade se não existir paixão dentro de nós. Muitas vezes achamos que o povo é ridículo, pidão, mesquinho, se faz de miserável, deixamos de enxergar o óbvio, de que a pobreza e a miséria são estruturantes, resultado de uma sociedade de classes, da exploração dos ricos sobre os pobres, de que é preciso cada vez mais pobres, para existires cada vez menos ricos mais poderosos.
Nossos governos e o Presidente Lula investiram e tornaram realidade os maiores programas de distribuição de renda do mundo: o Programa Bolsa Família, o Luz para todos, o Pró Uni, os programa de moradia popular, o PAC, e tantas outras políticas como o reajuste do salário mínimo. Melhorou a vida de milhares de pessoas que ascenderam a classe média, mas conservou milhões na pobreza, pois o modelo de desenvolvimento capitalista é excludente.
Por tudo isto companheiros (as) devemos reorientar nossa prática, buscar novas fontes para bebermos a sabedoria de nossa utopia, alimentar nossos sonhos da esperança socialista, manter a chama de nossa crença, de que é possível sair do sofrimento e construir a sociedade que irá garantir felicidade com igualdade e justiça para milhões de irmãos e irmãs.
Entre as tarefas colocadas para a militância petista, está nossa capacidade de mobilizar a sociedade para ter acesso às políticas públicas. Em nossas cidades é possível incentivar a mobilização e organização de cooperaivas, associações e outros movimentos, lutando pelo acesso a casa própria, pelo saneamento básico do PAC, por mais democratização na Bolsa Família, pelo alcance ao Pro Uni. Organizar um amplo movimento de massas que resulte na melhoria da qualidade de vida deve ser nosso objetivo. É claro que as oportunidades não se esgotam aí, pois devemos expor em nossas lutas os malefícios do capitalismo, as contradições das lutas de classe, e para tanto a construção de um mercado da economia solidária, buscando recursos do micro crédito, dinheiro para qualificação profissional e construção de cooperativas, organização de feiras de troca solidária, exposições solidárias, construção de empresas coletivas, mostrando nos bairros e nas colônias que uma nova economia é possível, são tarefas grandiosas e urgentes. Só vai existir um movimento PT Socialista se formos capazes de organizar o povo para combater a exploração capitalista com um novo modelo de economia e de desenvolvimento sustentável e solidário.
Por isto que o modelo de desenvolvimento que nos propomos é o sustentável, e aí pensemos na Amazônia, tão destruída e tão decantada, tão estudada e tão pesquisada, principalmente por cientistas internacionais, europeus, americanos, japoneses, etc. Se não bastasse a ganância de madeireiros, de fazendeiros, da derruba e queima de nossas árvores, da morte de igarapés e rios, da usurpação de nossa biotecnologia, do roubo de nossa fauna e flora, da destruição de nossos ecossistemas, e da campanha pela internacionalização da Amazônia, ainda querem transformar nossa Amazônia em território Mundial, como apêndice para fazer o meã culpa deles, eles destruíram suas reservas, seus ecossistemas, seus lençóis de água doce, eles então que assinem compromissos com a recuperação do meio ambiente e com a camada de ozônio.
Para explorar de forma sustentável nossa fauna, flora, nossa hidrografia, nossos minérios, nossas riquezas naturais, eles têm de ter o aprovo do povo brasileiro e Amazônida. Nós e nossos governos devemos elaborar leis de proteção e regulamentação do desenvolvimento na Amazônia. O custo Oxigênio, o custo da água, o custo do ar, devem estar embutidos como valor de agregação à sustentabilidade. O equilíbrio ambiental, a recuperação da degradação, a proibição de qualquer exploração irregular, mecanismos de fiscalização devem indicar a seriedade com que o governo brasileiro e os governos de cada estado amazônico, vão tratar a proteção das riquezas naturais da Amazônia Brasileira.

II. FORTALECER A ORGANIZAÇÃO PARTIDÁRIA PARA MANTER OS RUMOS DA PERSPECTIVA SOLIDÁRIA E SOCIALISTA
Todos concordamos que o PT traz à cena política brasileira, além de um projeto, uma nova forma de "fazer política". Multiplica atores, permitindo o acesso à participação política a milhares de pessoas, até então meros espectadores; propõe - e efetivamente prática - uma nova relação com a gestão pública, ressaltando a preocupação com a transparência, a lisura, a inversão de prioridades, a democratização e a participação popular, entre outros elementos. (Gilberto Carvalho, 1992)
O que significa inaugurar uma nova cultura ético-política num meio cuja história e tradição é a cultura da repressão-submissão, da delegação e não-participação, do promover-se individualmente a qualquer preço, da competição, do compadrio? A internalização destes valores transformou o público em sinônimo de corrupção, de salve-se quem puder, marcou nossa cultura com tal negatividade que assemelha-se a um vírus capaz de uma espantosa sobrevida. Retomando Manoel Bonfim, poderíamos afirmar que somos herdeiros diretos dessa tradição em que os trabalhadores sempre serviram aos coronéis, como mão-de-obra explorada, como soldados, capatazes ou eleitores.

Orfandade cruel
É preciso mencionar a crise de nossos projetos, de nossas utopias. Elementos motivadores, a "causa" em nome da qual gerações inteiras deram o melhor de si, numa entrega generosa, perdem hoje sua "luminosidade", como um farol em meio a brumas. Perdemos em boa parte nosso encanto de "Quixotes"; a dura e cruel orfandade nos torna menos ingênuos, mais realistas, com uma clara perda do fervor dos primeiros tempos. Somos obrigados a trabalhar as mediações, seja em nossas administrações seja nas sucessivas tentativas de construção de nossos "projetos alternativos".
Passamos a viver o processo de institucionalização de nossas instâncias e instrumentos de luta. Logo nós que nascemos contestando a ordem estabelecida. Talvez por isso mesmo, por preferir não enfrentar com clareza tais processos, agravamos ainda mais suas naturais dificuldades e tendências. Preferimos denunciar a chamada "casta burocrática" como se as pessoas se apegassem simplesmente por valoração moral aos aparelhos. Transformamos as "direções" em causa ampla e geral de todos os males, como se os que as compõem devessem ser dotados de uma tal clarividência que os mantivesse a salvo das dúvidas e problemas do comum dos viventes.
A crise não concerne apenas às utopias enquanto horizonte mais distante e guia; consiste também numa crise de paradigmas, de referenciais que norteiam nosso cotidiano, normas de conduta coletiva e de cada um. A perda das certezas, saudável enquanto nobre busca de um novo discernimento, enquanto ousadia da liberdade, tem o contraponto doloroso da insegurança no agir cotidiano, atravessado de contradições e enfrentando a hostilidade de novos "modelos" que se pretendem absolutos e definitivos.
Passamos a conviver cada vez mais com o fenômeno da capitulação, do cansaço, do abandono ou mesmo troca de front, da deserção... desafiados a buscar o equilíbrio entre uma ortodoxia que não parece sensibilizada por mudanças tão evidentes e um desbandeiramento que transforma o novo em fetiche. Manter nesse momento de cerco, de aparente recuo, a chama da esperança, a coragem da entrega generosa e cotidiana, navegando contra a implacável lógica dominante, é desafio que só se enfrenta coletivamente, construindo as bases de uma nova mística.
É urgente que trabalhemos no próprio processo de construção de nosso projeto alternativo, os elementos do que poderíamos denominar de uma "ética da solidariedade": a construção de um referencial de valores e práticas que se fundamentam na mobilização da pessoa para a construção coletiva da felicidade; e para um novo modo de viver e se relacionar. Trata-se de um núcleo de valores inalienáveis, cuja vigência não é espontânea, mas demanda uma conquista, como de resto o requer o próprio socialismo. Refiro-me ao respeito pelo ser humano, jamais passível de instrumentalização, ainda que em nome das causas nobres; ao exercício da política como serviço; à relação com o poder desinteressada, como instrumento que potencializa o exercício coletivo da elaboração e da tomada de decisões; à transparência que assegura a lisura dos atos; à lealdade no processo de luta, mesmo em relação ao adversário; ao respeito às minorias e à consciência de que o poder das maiorias está delimitado por um código de valores coletivamente reconhecidos; à necessidade de se tratar de maneira diferente o desigual; à importância de se assegurar a criatividade, a pluralidade, o questionamento impulsionador do novo; enfim, à certeza de que a interdependência sugere a solidariedade como um ato de inteligência e construção da vida.

Mudar o Pt Pará Investindo na Formação e na Organização Partidária
Sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário. Não seria demasiado insistir sobre essa idéia em uma época, onde o entusiasmo pelas formas mais limitadas da ação prática aparece acompanhado pela propaganda em voga do oportunismo.

Uma nova mensagem para o PT do Pará (documento inscrito no PED Pará na chapa da Mensagem)
O movimento “Mensagem ao Partido” surgiu em um momento de profunda desilusão e confusão de amplos setores partidários. Após veiculados na mídia diversos desvios de conduta engendrado pelas nossas principais expressões e lideranças em nível nacional, muitos militantes de base e lideranças desacreditaram do partido e, embora muitos saíram, muitos permaneceram, na esperança de uma refundação.
A “mensagem” surge nesse contexto, fazendo um balanço crítico da organização partidária recente, com o desmantelamento dos organismos de base, escassos espaços de formação política e o declínio da transparência e financiamento militante do partido. Resgatando a importância do PT para o Brasil e para o povo brasileiro e conclamando os militantes e filiados a repensar o partido e organizar uma alternativa que não seria por fora do PT, mas pela refundação daquele que já era o maior partido de esquerda da América Latina, que havia freado as agendas de privatização e engatinhava no sentido de trazer importantes vitórias e conquistas para amplas parcelas do povo, como o aumento real de salários, Bolsa Família, PROUNI, PAC e inúmeras outras marcas que mudaram os rumos do Estado brasileiro.
Desde a postura firme dos diversos setores que compõe a “Mensagem” de disputar estrategicamente os rumos do partido e propor um novo paradigma de organização pela base com transparência e formação política, foram registrados importantes avanços nos quais a “Mensagem” teve um papel fundamental. As principais teses no PED anterior já convergiam em defender mais formação política, ética e transparência no PT. Se aprovou um código de ética, se deu os primeiros passos no sentido da construção de uma Escola Nacional de Formação e o terceiro congresso do PT aprovou resoluções que ratificaram a opção do PT pelo socialismo, pelo compromisso de enfrentar as desigualdades e injustiças e a luta por um Brasil de “Homens e Mulheres Livres e Iguais”.
Embora esse conjunto de avanços fosse possível, ainda temos muito que avançar. O PT mudou como um todo, evoluiu, devido a diversas mudanças pontuais, iniciativas militantes e movimentos que registraram a importância dos trabalhadores/as, jovens, negros/as, gays, lésbicas e diversos segmentos de se organizarem politicamente num partido com capacidade de sintetizar as mais diversas e profundas esperanças de direitos iguais, justiça e democracia. Mas essa heterogeneidade e pluralidade de regiões e segmentos também criaram experiências diversificadas, fazendo coexistir ainda muitos vícios e práticas inapropriadas para um partido que reivindica uma trajetória socialista e valores republicanos.
O PT no Pará é reflexo dessa diversidade e complexidade de experiências. Embora acumule grande crescimento e importantes vitórias institucionais no legislativo e no executivo, sendo o partido que governa o estado e que, sem a menor sombra de dúvida, influencia decisivamente nos rumos da política local, ele ainda tem grande fragilidade organizativa, com poucos fóruns de base funcionando, intervenção progressivamente fragilizada nos processos de luta, uma política de comunicação deficiente, pouca transparência e diálogo com os militantes e filiados, orientação deficiente à intervenção parlamentar e executiva, principalmente no caso dos/as vereadores/as e prefeitos/as, setoriais em sua maioria desorganizados e pouca formação política.
Essa ultima gestão, na qual tínhamos 27% (2 membros na executiva), o PT avançou na organização de debates regionais e dialogo com os filiados nos diversos municípios, mas está na hora de radicalizar na democratização do partido. Propomos que as instâncias partidárias, núcleos de base, diretórios municipais, diretórios distritais e setoriais tenham uma vida mais ativa. Que a nova direção do partido invista na sua organização pela base. Dê espaço e estrutura para os setoriais funcionarem, incentive os diretórios municipais a se organizarem, crie espaços de comunicação como site na internet e o próprio boletim informativo do PT para esses setores se comunicarem e participarem mais ativamente da vida partidária.
Propomos para o PT do Pará que o novo código de ética não seja um mero texto escrito, mas uma conduta militante cotidiana do partido. A nova direção deve se empenhar em conduzir um amplo processo educativo com formação para as comissões de ética e para os militantes do partido no sentido de resgatar as práticas republicanas, inibir as filiações em massa e outros desvios de conduta. Propomos a transparência nas contas do PT, um amplo debate sobre reforma política e financiamento público de campanhas e o estímulo consciente à contribuição militante para a sustentação do partido.
O PT também precisa de uma política de comunicação eficiente. O partido está a frente do governo do estado e da presidência da república e muitos de nossos militantes e filiados não se apropriaram das informações necessárias sobre as ações desses nossos governos. Faltou ao PT empenho em criar canais de informação tanto para estimular a livre comunicação e acesso a informação da base do partido e dos movimentos sociais parceiros, como para defender os nossos governos contra os ataques da burguesia rentista, elitista e latifundiária. A comunicação deve ser uma postura militante do nosso partido, não apenas comunicando o que os nossos governos e parlamentares estão fazendo, mas lutando para que amplas parcelas do povo tenham acesso a informação livre num cenário em que as grandes multinacionais da comunicação controlam os principais veículos de informação. Nesse sentido propomos a criação de um coletivo de comunicação, responsável por construir e atualizar um site do PT/PA, com links para os setoriais e diretórios municipais e a tarefa de produzir e estimular a produção de diversos outros canais de comunicação como panfletos, jornais informativos, rádios etc.
O PT tem a sua história marcada pela defesa dos direitos dos trabalhadores e camadas populares. Tem intervenções consolidadas nos mais diferentes segmentos da luta popular e dos movimentos sociais. Essa marca petista tem se apagado nos últimos períodos em grande medida devido a sua incapacidade de conciliar e separar a luta social e política da gestão pública.
No Pará, que está situado no seio da maior floresta tropical do planeta, esta recente contradição do partido tem se evidenciado. Na Amazônia desde a sua colonização existiram acirrados conflitos entre os povos da floresta e seus pequenos colonizadores e ocupantes contra o imperialismo colonial, seja ele na forma das antigas companhias de comércio, tráfico negreiro e aviamento ou nas contemporâneas multinacionais de exploração madeireira, de gado, soja e mineração. O Pará tem sido palco de grandes conflitos de Sem-terras com latifundiários; indígenas, ribeirinhos, quilombolas, camponeses, mineiros, seringueiros com grandes multinacionais como a Vale e a ALCOA que contam com ampla complacência da elite local e incentivos públicos.
Esses conflitos de característica amazônica e ambiental são características importantes da formação paraense e permeiam a fundação do partido nas mais diversas regiões do estado. A conquista de espaços institucionais e a vulnerabilidade de nosso partido, governos e parlamentares frente aos ataques da mídia e da opinião publica reacionária em grande medida afastou o PT da direção e iniciativa dessas lutas.
Mas, embora tenhamos que ter compromisso e responsabilidade com os nossos governos e parlamentares, não podemos fugir a essencialidade de nossa plataforma política. A luta dos movimentos sociais, em uma análise mais ampla e histórica não prejudica, mas ajuda a construir o nosso projeto. Sem a pressão popular e amplo apoio do povo, as mudanças que o Brasil e o Pará precisam são impossíveis. É necessário táticas mais consistente e um aprofundamento dessas lutas no sentido de, inclusive, permitir que os nossos espaços institucionais avancem no questionamentos dos direitos irrestritos do capital e na consolidação de plataformas que dêem respostas consistentes à luta histórica do povo amazônico.
Nesse sentido, propomos que o PT aprofunde a sua intervenção junto aos movimentos sociais, assuma uma posição política clara, favorável às mais diversas lutas e segmentos que marcam a atual conjuntura de enfrentamento ao lucro irresponsável e acumulação privatista. Um passo fundamental para isso é a organização dos setoriais e a elaboração de políticas para cada um desses segmentos.
O PT deve defender a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, políticas de geração de emprego e ampliação da renda do/a trabalhador/a; reforma agrária, criação de assentamentos com condições de produção, escoamento, educação e saúde para seus moradores e a expropriação do latifúndio improdutivo e violento que até os dias de hoje emprega mão de obra escrava e violência contra os/as trabalhadores/as; melhores condições de vida, acesso a emprego, educação, esporte e lazer à juventude em particular aos segmentos vulneráveis que, devido a um acúmulo de políticas elitistas, ocupam as periferias e não tem acesso a sua inserção com dignidade na vida adulta; o direito das mulheres ao seu corpo, o direito de não sofrer violência, o direito de trabalhar em iguais condições que os homens, direito a um efetiva participação política, direito ao aborto com financiamento público do SUS, etc.; O PT deve defender a livre expressão sexual e o direito de não sofrer violência física e moral, assim como o direito dos gays, lésbicas, travestis e transexuais de casarem e constituírem família; o PT deve lutar contra a opressão dos negros/as, contra o genocídio da juventude negra nas periferias pela reparação histórico cometida contra esse segmento, pela criação de assentamentos quilombolas e cotas para acesso ao ensino superior.
Com essas e outras lutas a tese “Mensagem ao Partido” convida o conjunto de filiados do PT/PA a fazerem história e se somarem na construção de um partido republicano, transparente, socialista e democrático que seja a expressão política dos que lutam por um Pará com mais dignidade e direitos para o seu povo.


TEXTO SISTEMATIZADO POR RAIMUNDO NONATO GUIMARÃES – Movimento Solidariedade. Foram utilizados parágrafos do livro Lenin O Que Fazer?, De um documento de Gilberto Carvalho de 2002 e de documento do próprio Nonato, CARTA AOS MILITANTES SOLIDÁRIOS.
Capanema, 27 de agosto de 2009.


GUIMARÃES, Raimundo Nonato. Carta aos Militantes Solidários. Julho de 2009.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Quinta-feira, 3 de Setembro de 2009

CARTA À MILITÂNCIA SOLIDÁRIA...

Companheiros (as),
Estamos em processo de construção de nosso Movimento Solidariedade. Já sabíamos das dificuldades que iríamos enfrentar, das divergências, das crises e de tantas contradições que viriam.
Muitos de nós já militamos noutras tendências internas do PT, como muitos vieram da tendência AS para tentar e construir o Movimento Solidariedade. Revoltados com a falta de atenção, com o eleitoralismo, com o poder dos gabinetes parlamentares, gritamos um SOS petista buscando nos livrar da mesmice das crises oriundas desde 2005, conforme alguns analistas, para nós a carta de Gilberto de Carvalho denunciando e anunciando a crise organizativa e ideológica do PT que vem desde 2002.
Aos seis anos do governo Lula e na perspectiva eleitoral da sucessão em 2010, devemos nos preparar para rediscutir, debater, reescrever nossa história e os compromissos do PT para o futuro, de início devemos assegurar que o PT é socialista e nós militantes solidários somos socialistas.
Alterar os métodos de relacionamento interno no Partido, as relações institucionais e políticas de aliança devem superar as negociatas e entreguismo de nossos princípios, fortalecendo desde agora a conquista da hegemonia, afirmando nossos valores e recuperando credibilidade na sociedade. O maior desafio que vejo é como fazer uma leitura correta da avaliação positiva do Presidente Lula, avançando no intelecto e na subjetividade da sociedade civil, para firmar que o Presidente Lula é fruto da história democrática do PT.
Hegemonizar nossas políticas no seio da sociedade brasileira é um exercício que requer uma nova correlação de forças no PT. Devemos avançar nas conquistas e no modelo de desenvolvimento do País, a política de juros do banco central, as relações com diversos setores da economia, como os fabricantes de veículos e máquinas, com os banqueiros, com o agrobusiness e outros, deve ser alterada, estabelecendo novos referenciais econômicos, e não mais a facilidade para atores que só fazem ganhar e enriquecer cada vez mais, seja nas crises, seja nos ciclos abundantes da economia.
No Brasil, como na América Latina e outras partes do mundo, os capitalistas vivem à custa do Estado, ente tão criticado pelas mídias e atores líderes do capital. Os balancetes destes setores aumentam a cada semestre, e eles a cada momento estudam como prejudicar cada vez mais os trabalhadores e a democracia. Demissões aumento de preços, isenção do IPI, são amostras de como a iniciativa privada se comporta frente ao Estado Brasileiro governado pelo PT e pelo Presidente Lula.
Devemos fazer nossa militância organizando o povo, e qual é o povo que devemos organizar e defender? Os excluídos, os pobres, os negros, os índios, as mulheres, a juventude, as crianças. Solidariedade significa amar os outros, não existe solidariedade se não existir paixão dentro de nós. Muitas vezes achamos que o povo é ridículo, pidão, mesquinho, se faz de miserável, deixamos de enxergar o óbvio, de que a pobreza e a miséria são estruturantes, resultado de uma sociedade de classes, da exploração dos ricos sobre os pobres, de que é preciso cada vez mais pobres, para existir cada vez menos ricos mais poderosos.
Nossos governos e o Presidente Lula investiram e tornaram realidade os maiores programas de distribuição de renda do mundo: o Programa Bolsa Família, o Luz para todos, Pró Uni, os programas de moradia popular, o PAC, e tantas outras políticas como o reajuste do salário mínimo. Melhorou a vida de milhares de pessoas que ascenderam à classe média, mas conservou milhões na pobreza, pois o modelo de desenvolvimento capitalista é excludente.
Por tudo isto companheiros (as) devemos reorientar nossa prática, buscar novas fontes para bebermos a sabedoria de nossa utopia, alimentar nossos sonhos da esperança socialista, manter a chama de nossa crença, de que é possível sair do sofrimento e construir a sociedade que irá garantir felicidade com igualdade e justiça para milhões de irmãos e irmãs.
Entre as tarefas colocadas para a militância solidária, está nossa capacidade de mobilizar a sociedade para ter acesso às políticas públicas. Em nossas cidades é possível criar e organizar os núcleos de solidariedade, lutando pelo acesso a casa própria, pelo saneamento básico do PAC, por mais democratização na Bolsa Família, pelo alcance ao Pro Uni. Organizar um amplo movimento de massas que resulte na melhoria da qualidade de vida deve ser nosso objetivo. É claro que as oportunidades não se esgotam aí, pois devemos expor em nossas lutas os malefícios do capitalismo, as contradições das lutas de classe, e para tanto a construção de um mercado da economia solidária, buscando recursos do micro crédito, dinheiro para qualificação profissional e construção de cooperativas, organização de feiras de troca solidária, exposições solidárias, construção de empresas coletivas, mostrando nos bairros e nas colônias que uma nova economia é possível, são tarefas grandiosas e urgentes. Só vai existir um movimento solidariedade se formos capazes de organizar o povo para combater a exploração capitalista com um novo modelo de economia e de desenvolvimento sustentável e solidário.
Por isto que o modelo de desenvolvimento que nos propomos é o sustentável, e aí pensemos na Amazônia, tão destruída e tão decantada, tão estudada e tão pesquisada, principalmente por cientistas internacionais, europeus, americanos, japoneses, etc. Se não bastasse a ganância de madeireiros, de fazendeiros, da derruba e queima de nossas árvores, da morte de igarapés e rios, da usurpação de nossa biotecnologia, do roubo de nossa fauna e flora, da destruição de nossos ecossistemas, e da campanha pela internacionalização da Amazônia, ainda querem transformar nossa Amazônia em território Mundial, como apêndice para fazer o meã culpa deles, eles destruíram suas reservas, seus ecossistemas, seus lençóis de água doce, eles então que assinem compromissos com a recuperação do meio ambiente e com a camada de ozônio.
Para explorar de forma sustentável nossa fauna, flora, nossa hidrografia, nossos minérios, nossas riquezas naturais, eles têm de ter a aprovação do povo brasileiro e Amazônida. Nós e nossos governos devemos elaborar leis de proteção e regulamentação do desenvolvimento na Amazônia. O custo Oxigênio, o custo da água, o custo do ar, devem estar embutidos como valor de agregação à sustentabilidade. O equilíbrio ambiental, a recuperação da degradação, a proibição de qualquer exploração irregular, mecanismos de fiscalização devem indicar a seriedade com que o governo brasileiro e os governos de cada estado amazônico, vão tratar a proteção das riquezas naturais da Amazônia Brasileira.
São muitas nossas tarefas, mas o lugar onde militamos até pouco tempo atrás não nos proporcionou estas reflexões, não nos valorizou para alcançarmos destinos e relacionamentos que nos facilitasse o eco e a ressonância destas questões. Hoje no caminho de nossa construção, cada dirigente, cada liderança, cada militante solidário deve despertar em seu íntimo a certeza de que somos importantes, de que nossos gritos tenham eco em outros lugares.
Aceitamos o convite para participar do campo nacional A MENSAGEM AO PARTIDO, aqui no Pará vamos ser da comissão estadual da Mensagem. Vamos nos relacionar com a tendência DS – Democracia Socialista e outros coletivos da Mensagem. As repercussões desta decisão são imediatas, vamos nos juntar no PED para assumirmos a direção do PT local em diversos municípios, vamos conquistar espaços partidários nos municípios, no Pará e no Brasil.
Na luta, com muita solidariedade.

terça-feira, 8 de setembro de 2009


Na Íntegra o pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula
da Silva, à nação brasileira, ontem à noite, em cadeia nacional de
rádio e televisão:

"Queridas Brasileiras e Queridos Brasileiros,

É comum que o 7 de setembro sirva para a gente enaltecer o passado e
pensar o presente. Desta vez é diferente: este é o 7 de setembro do
Brasil festejar o futuro. De celebrar uma nova independência.

Esta nova independência tem nome, forma e conteúdo. Seu nome é
pré-sal; seu conteúdo são as gigantescas jazidas de petróleo e gás
descobertas nas profundezas do nosso mar; sua forma é o conjunto de
projetos de lei que enviamos, há poucos dias, ao Congresso Nacional. E
que vai garantir que esta riqueza seja corretamente utilizada para o
bem do Brasil e de todos os brasileiros.

Peço a cada um de vocês que acompanhe passo a passo as discussões
destas leis no Congresso. Que se informe, reflita, e entre de corpo e
alma nesse debate tão importante para os destinos do Brasil e para o
futuro de nossos filhos e netos.

Posso resumir em duas frases a proposta do governo: de um lado, ela
garante que a maior parte da riqueza do pré-sal fique nas mãos dos
brasileiros; de outro, ela impede que qualquer governante gaste de
forma irresponsável estes recursos. E mais: obriga que este dinheiro
seja aplicado em educação, ciência e tecnologia, cultura, defesa do
meio-ambiente e combate à pobreza.

Minhas amigas e meus amigos,

O pré-sal é uma das maiores descobertas de todos os tempos. Ainda não
se pode dizer, com exatidão, quantos bilhões de barris de petróleo
existem nele. Mas já se pode garantir, com toda segurança, que ele
colocará o Brasil entre os países com maiores reservas de petróleo e
gás do mundo.

Elas se espalham por uma área de 149 mil quilômetros quadrados, que
começa no litoral do Espírito Santo e termina no de Santa Catarina. É
uma área do tamanho do estado do Ceará.

As jazidas ficam debaixo de uma lâmina de água e de camada de sal,
que, em alguns pontos, correspondem a dez morros do corcovado
empilhados.
Minhas amigas e meus amigos,

O que deve fazer um povo livre, responsável e soberano ao receber
tamanha dádiva de Deus? Garantir que esta riqueza não escape de suas
mãos, buscar os meios mais eficientes de explorá-la e modernizar suas
leis para não repetir os erros de outros países.

A história tem mostrado que a riqueza do petróleo é uma faca de dois
gumes. Quando bem explorada, traz progresso para o povo. Quando mal
explorada, ela traz conflitos, desperdícios, agressão ao
meio-ambiente, desorganização da economia e privilégios para uns
poucos. Assim, alguns países pobres, ricos em petróleo, não
conseguiram jamais sair da miséria.

Por isso, dei orientações bem claras aos ministros. Primeira: o
petróleo e o gás pertencem ao povo brasileiro. Como no pré-sal, os
possíveis sócios terão poucos riscos, eles não podem ficar com a parte
da renda. Ela tem que ser do povo. Segunda orientação: o Brasil não
pode ser um mero exportador de óleo cru. Vamos agregar valor aqui
dentro, exportando derivados, como gasolina, diesel e produtos
petroquímicos, que valem muito mais. Vamos construir uma poderosa
indústria de equipamentos e serviços e gerar milhares e milhares de
empregos brasileiros. Terceira orientação: não vamos nos deslumbrar e
sair por aí, como novos ricos, torrando dinheiro em bobagens. O
pré-sal é um passaporte para o futuro.

Vamos investir seus recursos naquilo que temos de mais precioso e
promissor: nossos filhos, nossos netos, nosso futuro.

Minhas amigas e meus amigos,

Os ministros seguiram estas diretrizes e honraram o compromisso com o
povo brasileiro. A principal mudança que estamos propondo é que, nas
áreas ainda não exploradas do pré-sal, passe a vigorar o modelo de
partilha. Quase todos os países que têm grandes reservas e baixo risco
de exploração adotam este sistema. Ele garante que o estado e o povo
continuem donos da maior parte do óleo e do gás mesmo depois de sua
extração.

O modelo de concessão, que foi adotado em 97, não se adapta a nova
situação. Seria um erro mantê-lo no pré-sal. Um erro grave. Ele foi
implantado quando não sabíamos da existência de grandes reservas e o
País não tinha recursos para explorar seu petróleo.

Estamos propondo, também, que a Petrobras seja a operadora de toda
área. Ou seja, exerça atividades de exploração e produção, com uma
participação mínima de 30% em todos os blocos.

Não podia ser diferente. Afinal, temos dentro de casa uma das maiores,
melhores e mais respeitadas empresas de petróleo do mundo. Assim
saberemos tudo sobre as reservas, aperfeiçoaremos nossa tecnologia e
faremos da Petrobras uma empresa ainda mais forte.

Este trabalho será complementado pela Petro-sal, uma nova empresa
estatal, enxuta e altamente qualificada, que vai gerir os contratos de
partilha e os de comercialização. Ela não vai concorrer com a
Petrobras. Sua função é outra – a de ser o olho do povo na
fiscalização de toda operação.

Minhas amigas e meus amigos,

Hoje o Brasil tem todas as condições políticas, econômicas e
tecnológicas para enfrentar este desafio. A economia do Brasil vive um
novo momento.

De 2003 a 2008, crescemos em média, 4,1% ao ano. Nos últimos dois
anos, mais que 5%. O país gerou cerca de onze milhões de empregos com
carteira assinada. O desemprego caiu fortemente, de 11,7% em 2003,
para 8% hoje.

As taxas de juros são os menores das últimas décadas.

Não só pagamos a dívida externa, como acumulamos reservas de 215
bilhões de dólares. E mais: reduzimos a miséria e as desigualdades.
Mais de 30 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza. E
destes, 20 milhões ingressaram na nova classe média, fortalecendo o
mercado interno e dando vigoroso impulso à nossa economia.

O fato é que hoje temos uma economia organizada e em crescimento, que
foi testada na mais grave crise internacional desde 29 e saiu-se muito
bem. Não só, não quebramos como fomos um dos últimos países a entrar
na crise e estamos sendo um dos primeiros a sair dela. Antes, éramos
alvo de chacotas e de imposições. Hoje, nossa voz é ouvida lá fora com
atenção e respeito.

A Petrobras de hoje é a cara deste novo Brasil. É a oitava maior
empresa do mundo. Não existe nenhuma empresa, na Europa, do tamanho
dela. Nas Américas, fica atrás apenas de três gigantes
norte-americanas. E é a segunda empresa em lucratividade. E, entre as
petroleiras, a segunda em valor de mercado no mundo.

A Petrobras chegou aí, entre outros motivos, porque este governo
acreditou e investiu, dando condições para que ela aumentasse a
produção, encomendasse plataformas, sondas, modernizasse e ampliasse
refinarias, treinasse e contratasse funcionários. Além de construir
uma grande infra-estrutura de gás natural e entrar na área de
biocombustíveis.

O coroamento deste esforço foi exatamente a descoberta, pela própria
Petrobras, das reservas do pré-sal. Um feito extraordinário, que
encheu de admiração o mundo e de orgulho os brasileiros.

Minhas amigas e meus amigos,

Este é um governo que acredita no Brasil e no que ele tem de mais
rico: o seu povo.

É por isso que propomos que os recursos do pré-sal sejam colocados em
um fundo social, controlado pela sociedade, e que será aplicado,
majoritariamente, em desenvolvimento humano. De um lado, o novo fundo
será uma mega-poupança, um passaporte para o futuro, que nos ajudará,
entre outras coisas, a pagar a imensa dívida que o País tem com a
educação e a pobreza.

De outro lado, funcionará, também, como um dique contra a entrada
desordenada de dinheiro externo, evitando seus efeitos nocivos e
garantindo que nossa economia siga saudável, forte e baseada no
trabalho e no talento de nossa gente.

Todos estes temas estão agora em discussão no Congresso Nacional e eu
sei que contaremos, mais uma vez, com o apoio livre e soberano do
Legislativo na construção deste novo Brasil.

Uma ação desta amplitude só pode ocorrer, de forma saudável, em um
ambiente democrático. A democracia é o ambiente mais saudável para o
crescimento.

O embate e a paixão política fazem parte do universo democrático, mas
não podemos deixar que interesses menores retardem ou desviem a marcha
do futuro.

Uma democracia só se fortalece com a participação da sociedade. Por
isso se mobilize, converse com seus amigos, escreva pra seu deputado,
seu senador, pra que eles apóiem o que é melhor para o Brasil.

O Brasil não tem medo de crescer, nem de buscar os melhores caminhos.
Não vai ficar preso a dogmas, a modelos fechados ou a falsas verdades.

O Brasil acredita no livre mercado, mas também no papel do estado como
indutor do desenvolvimento. E saberá sempre buscar o equilíbrio que
garanta o melhor para seu povo.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

É tempo de ampliarmos, ainda mais, a nossa esperança no Brasil. A
independência não é um quadro na parede nem um grito congelado na
história. A independência é uma construção do dia-a-dia. A reinvenção
permanente de uma nação. A caminhada segura e soberana para o futuro.

Viva o 7 de setembro! Boa noite!"

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A Teologia da Libertação: Leonardo Boff e Frei Betto
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Michael Löwy *

Adital -

Os cristãos comprometidos socialmente são um dos componentes mais ativos e importantes do movimento altermundista; particularmente, porém não somente na América Latina e especialmente no Brasil, país que acolheu as primeiras reuniões do Fórum Social Mundial (FSM). Um dos iniciadores do FSM, Chico Whitaker, membro da "Comissão Justiça e Paz" da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pertence a esta esfera de influência, o mesmo que o sacerdote belga François Houtart, amigo e professor de Camilo Torres, promotor da revista Alternatives Sud, fundador do "Centro Tricontinental" (CETRI) e uma das figuras intelectuais mais influentes do Fórum.

Podemos datar o nascimento dessa corrente, que poderíamos denominar como "cristianismo da libertação" no começo dos anos 60, quando a Juventude Universitária Católica brasileira (JUC), alimentada pela cultura católica francesa progressista (Emmanuel Mounier e a revista Esprit, o padre Lebret e o movimento "Economia y Humanismo", o Karl Marx do jesuíta J.Y. Calvez), formula por primeira vez, em nome do cristianismo, uma proposta radical de transformação social. Esse movimento se estende depois a outros países do continente e encontra, a partir dos anos 70, uma expressão cultural, política e espiritual na "Teologia da Libertação".

Os dois principias teólogos da libertação brasileiros, Leonardo Boff e Frei Betto, estão, portanto, entre os precursores e inspiradores do altermundismo; com seus escritos e suas palavras participam ativamente nas mobilizações do "movimento dos movimentos" e nos encontros do Fórum Social Mundial. Se sua influencia é muito significativa no Brasil, onde muitos militantes dos movimentos sociais, tais como sindicatos, MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e movimentos de mulheres provêm de comunidades eclesiais de base (CEBs) conhecidas na Teologia da Libertação, seus escritos também são muito conhecidos entre os cristãos de outros países, tanto da América Latina quando do resto do mundo.

Se houvesse que resumir a idéia central da Teologia da Libertação em uma só frase, seria "opção preferencial pelos pobres".

Qual é a novidade? Por ventura, a Igreja não esteve sempre, caritativamente, atenta ao sofrimento dos pobres? A diferença -capital- é que o cristianismo da libertação já não considera os pobres como simples objetos de ajuda, compaixão ou caridade, mas como protagonistas de sua própria história, artífices de sua própria libertação. O papel dos cristãos comprometidos socialmente é participar na "longa marcha" dos pobres rumo à "terra prometida" -a liberdade-, contribuindo para sua organização e emancipação sociais.

O conceito de "pobre" tem, obviamente, um profundo alcance religioso no cristianismo; porém, corresponde também a uma realidade social essencial no Brasil e na América Latina: a existência de uma imensa massa de despossuídos, tanto nas cidades quanto no campo, que não são todos proletários ou trabalhadores. Alguns sindicalistas cristãos latino-americanos falam de "pobretariado" para descrever essa classe de deserdados que não somente são vítimas da exploração, mas, sobretudo, são vítimas da exclusão social pura e simples.

O processo de radicalização das culturas católicas do Brasil e América Latina que desembocou na criação da Teologia da Libertação não vai desde a cúpula da Igreja para irrigar sua base, nem a base popular vai à cúpula (duas versões que se encontram nos discursos dos sociólogos ou historiadores do fenômeno); mas da periferia rumo ao centro. As categorias ou setores sociais do âmbito religioso que serão o motor da renovação são todos, de alguma forma, marginais ou periféricos com relação à instituição: movimentos, leigos da Igreja e seus capelães; expertos leigos, sacerdotes estrangeiros, ordens religiosas. Em alguns casos, o movimento alcança o "centro" e consegue influir nas Conferências Episcopais (particularmente no Brasil), em outros casos fica bloqueado nas "margens" da instituição.

A pesar de que existem divergências significativas entre os teólogos da libertação, na maioria de seus escritos encontramos repetidos os temas fundamentais que constituem uma saída radical da doutrina tradicional e estabelecida das Igrejas Católica e Protestante:

-Uma implacável acusação moral e social contra o capitalismo como sistema injusto e iníquo, como forma de pecado estrutural.
-O uso do instrumento marxista para compreender as causas da pobreza, as contradições do capitalismo e as formas da luta de classes.
-A opção preferencial a favor dos pobres e a solidariedade com sua luta de emancipação social.
-O desenvolvimento de comunidades cristãs de base entre os pobres como a nova forma da Igreja e como alternativa ao modo de vida individualista imposto pelo sistema capitalista.
-A luta contra a idolatria (não o ateísmo) como inimigo principal da religião, isto é, contra os novos ídolos da morte, adorados pelos novos faraós, pelos novos Césares e pelos novos Herodes: O consumismo, a riqueza, o poder, a segurança nacional, o Estado, os exércitos; em poucas palavras, "a civilização cristã ocidental".

Examinemos mais de perto os escritos de Leonardo Boff e de Frei Betto, cujas idéias contribuíram, sem dúvida, à formação da cultura político-religiosa do componente cristão do altermundismo.

O livro de Leonardo Boff -na época, membro da ordem franciscana,- Jesus Cristo libertador, (Petrópolis, Vozes, 1971), pode ser considerado como a primeira obra da Teologia da Libertação no Brasil. Essencialmente, trata-se de uma obra de exegese bíblica; porém um dos capítulos, possivelmente o mais inovador, intitulado "Cristologia desde América Latina", expressa o desejo de que a Igreja possa "participar de maneira crítica no arrranque global de libertação que a sociedade sul-americana conhece hoje". Segundo Boff, a hermenêutica bíblica de seu livro está inspirada pela realidade latino-americana, o que dá como resultado "a primazia do elemento antropológico sobre o eclesiástico, do utópico sobre o efetivo, do crítico sobre o dogmático, do social sobre o pessoal e da ortopráxis sobre a ortodoxia"; aqui se anunciam alguns dos temas fundamentais da Teologia da Libertação [1].

Personagem carismático, com uma cultura e uma criatividade enormes, ao mesmo tempo místico franciscano e combatente social, Boff converteu-se no principal representante brasileiro dessa nova corrente teológica. Em seu primeiro livro já encontramos referencias ao "Princípio Esperança", de Ernst Bloch, porém, progressivamente, no curso dos anos 70, os conceitos e temas marxistas cada vez mais aparecem em sua obra até converter-se em um dos componentes fundamentais de sua reflexão sobre as causas da pobreza e a prática da solidariedade com a luta dos pobres por sua libertação.

Rechaçando o argumento conservador que pretende julgar o marxismo pelas práticas históricas do chamado "socialismo real", Boff constata, não sem ironia, que o mesmo que o Cristianismo não se identifica com os mecanismos da Santa Inquisição, o marxismo não tem porque se equiparar aos "socialismos" existentes, que "não representam uma alternativa desejável por conta de sua tirania burocrática e pelo sufocamento das liberdades individuais". O ideal socialista pode e deve assumir outras formas históricas [2]

Em 1981, Leonardo Boff publica o livro "Igreja, Carisma e Poder", uma reviravolta na história da Teologia da Libertação: por primeira vez desde a Reforma protestante, um sacerdote católico coloca em xeque, de maneira direta, a autoridade hierárquica da Igreja, seu estilo de poder romano-imperial, sua tradição de intolerância e dogmatismo -simbolizada durante vários séculos pela Inquisição, pela repressão de toda crítica vinda de baixo e o rechaço da liberdade de pensamento. Denuncia também a pretensão de infalibilidade da Igreja e o poder pessoal excessivo dos papas, que compara, não sem ironia, com o poder do secretário geral do Partido Comunista soviético.

Convocado pelo Vaticano em 1984 para um "colóquio" com a Santa Congregação para a Doutrina da Fé (antes, o Santo Ofício), dirigida pelo Cardenal Ratzinger, o teólogo brasileiro não abaixa a cabeça, nem nega retratar-se; permanece fiel a suas convicções e Roma o condena a um ano de "silencio obsequioso"; finalmente, frente à multiplicação dos protestos no Brasil e em outros lugares, a sansão foi reduzida em vários meses. Dez anos mais tarde, cansado do hostigamento, das proibições e das exclusões de Roma, Boff abandona a ordem dos franciscanos e a Igreja, sem, no entanto, abandonar sua atividade de teólogo católico.

A partir dos anos 90, interessa-se cada vez mais pelas questões ecológicas que aborda com o espírito de amor místico e franciscano pela natureza e com uma perspectiva de crítica radical do sistema capitalista. Será o objeto do livro Dignitas Terrae. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres, (S. Paulo, Ática, 1995) e escreve inúmeros ensaios filosóficos, éticos e teológicos que abordam esta problemática. Segundo Leonardo Boff, o encontro entre a Teologia da Libertação e a ecologia é resultado de uma constatação: "A mesma lógica do sistema dominante de acumulação e da organização social que conduz à exploração dos trabalhadores, leva também à pilhagem de nações inteiras, e, finalmente, à degradação da natureza".

Portanto, a Teologia da Libertação aspira a uma ruptura com a lógica desse sistema, uma ruptura radical que aponta a "libertar os pobres, os oprimidos e os excluídos, as vítimas da voracidade da acumulação injustamente distribuída e libertar a Terra, essa grande vítima sacrificada pela pilhagem sistemática de seus recursos, que põe em risco o equilíbrio físico, químico e biológico do planeta como um todo". O paradigma opressão / libertação aplica-se, pois, para ambas: as classes dominadas e exploradas por um lado; e a Terra e suas espécies vivas, por outro [3].

Amigo próximo de Leonardo Boff (publicaram alguns livros juntos), Frei Betto é, sem dúvida, um dos mais importantes teólogos da libertação do Brasil e da América Latina e um dos principais animadores das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). Dirigente nacional da Juventude Estudantil Católica (JEC) no início dos anos 60, Carlos Alberto Libânio Christo (seu nome verdadeiro) começou sua educação espiritual e política com Santiago Maritain, Emmanuel Mounier, o padre Lebret e o grande intelectual católico brasileiro Alceu Amoroso Lima, porém, durante sua atividade militante na União Nacional dos Estudantes (UNE), descobriu O Manifesto Comunista e A Ideologia Alemã. Quando entrou como noviço na ordem dos dominicanos, em 1965, naquela época um dos principias focos de elaboração de uma interpretação liberacionista do cristianismo, já havia tomado firmemente a resolução de consagrar-se à luta da revolução brasileira [4].

Impressionado com a pobreza do mundo e pela ditadura militar estabelecida em 1964, incorpora-se a uma rede de dominicanos que simpatizam ativamente com a resistência armada contra o regime. Quando a repressão se intensificou, em 1969, socorreu a inúmeros revolucionários, ajudando-os a esconder-se ou a cruzar a fronteira para o Uruguai ou para a Argentina. Essa atividade custou-lhe cinco anos de prisão, de 1969 a 1973.

Em um livro fascinante publicado no Brasil e reeditado mais de dez vezes, Batismo de Sangue. Os dominicanos e a morte de Carlos Marighella (Río de Janeiro, Ed. Bertrand, 1987), traça o retrato do dirigente do principal grupo revolucionário armado, assassinado pela polícia em 1969, bem como o de seus amigos dominicanos presos nas rodas da repressão e destroçados pela tortura. O último capítulo está consagrado à trágica figura de Frei Tito de Alencar, tão cruelmente torturado pela polícia brasileira que jamais recobrou seu equilíbrio psíquico: libertado da prisão e exilado na França, sofreu uma aguda mania de perseguição e cometeu suicídio em 1974.

As Cartas da Prisão de Betto, publicadas em 1977, mostram seu interesse pelo pensamento de Marx, a quem designava, para burlar a censura política, "o filósofo alemão". Em uma carta de outubro de 1971 a uma amiga, abadesa beneditina, observava: "a teoria econômico-social do filósofo alemão não teria existido sem as escandalosas contradições sociais provocadas pelo liberalismo econômico, que o conduziram a percebê-las, analisá-las e estabelecer princípios capazes de sobrepô-los" [5].

Depois de sua libertação da prisão, em 1973, Frei Betto consagrou-se à organização das comunidades de base. Durante os anos seguintes publicou vários folhetos que, em linguagem simples e inteligível, explicavam o sentido da Teologia da Libertação e o papel das CEBs. Logo, converteu-se em um dos principais dirigentes dos encontros intereclesiais nacionais, onde as CEBs de todas as regiões do Brasil intercambiam suas experiências sociais, políticas e religiosas. Em 1980 organizou o 4º Congresso internacional dos Teólogos do Terceiro Mundo.

Desde 1979 Betto é responsável pela Pastoral Operária de São Bernardo do Campo, cidade industrial do subúrbio de São Paulo, onde nasceu o novo sindicalismo brasileiro. Sem vincular-se a nenhuma organização política, não escondia suas simpatias pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Após a vitória eleitoral do candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva, em 2001, foi designado pelo novo presidente para dirigir o Programa "Fome Zero"; no entanto, descontente com a orientação econômica do governo, prisioneiro dos paradigmas neoliberais, demitiu-se de seu posto dois anos depois.

Enquanto alguns teólogos tentam reduzir o marxismo a uma "mediação sócio-analítica", Betto defende, em seu ensaio de 1986, Cristianismo e Marxismo, uma interpretação muito mais ampla da teoria marxista que inclui a ética e a utopia: "o marxismo é, sobretudo, uma teoria da práxis revolucionária (...). A prática revolucionária sobrepõe-se ao conceito e não se esgota na análise estritamente científica porque, necessariamente, inclui dimensões éticas, místicas e utópicas (...). Sem essa relação dialética teoria-práxis, o marxismo se esclerosa e se transforma em ortodoxia acadêmica perigosamente manipulável pelos que controlam os mecanismos do poder". Esta última frase é, sem dúvida, uma referencia crítica a URSS e aos países do socialismo real que constituem, em sua maneira de ver, uma experiência deformada por sua "ótica objetivista", sua "tendência economicista" e, sobretudo, por sua "metafísica do Estado".

Betto e Boff, como a imensa maioria dos teólogos da libertação, não aceitam a redução, tipicamente liberal, da religião a um "assunto privado" do indivíduo. Para eles, a religião é um assunto eminentemente público, social e político. Essa atitude não é necessariamente uma oposição à laicidade; de fato, o cristianismo da libertação situa-se nas antípodas do conservadorismo clerical:

-Predicando a separação total entre a Igreja e o Estado e a ruptura da cumplicidade tradicional entre o clero e os poderosos.
-Negando a idéia de um partido ou um sindicato católico e reconhecendo a necessária autonomia dos movimentos políticos e sociais populares.
-Rechaçando toda idéia de regresso ao "catolicismo político" pré-crítico e sua ilusão de uma "nova cristandade".
-Favorecendo a participação dos cristãos nos movimentos ou partidos populares seculares.

Para a Teologia da Libertação não existe contradição entre essa exigência de democracia moderna e secular e o compromisso dos cristãos no âmbito político. Trata-se de dois enfoques diferentes da relação entre religião e política: desde o ponto de vista institucional é imprescindível que prevaleça a separação e a autonomia; porém, no âmbito ético-político o imperativo essencial é o compromisso.

Levando em consideração essa orientação eminentemente prática e combativa, não é de se estranhar que muitos dos dirigentes e ativistas dos movimentos sociais mais importantes dos últimos anos -desde 1990-, fossem formados na América Latina segundo as idéias da Teologia da libertação. Podemos dar como exemplo o MST, um dos movimentos mais impressionantes da história contemporânea do Brasil, por sua capacidade de mobilização, seu radicalismo, sua influência política e sua popularidade (além de ser uma das principais forças da organização do Fórum Social Mundial). A imensa maioria dos dirigentes ou ativistas do MST procedem das CEBs ou da Pastoral da Terra: sua formação religiosa, moral, social e, em certa medida, política, efetuou-se nas filas da "Igreja dos pobres". No entanto, desde sua origem, nos anos 70, o MST optou por ser um movimento leigo, secular e autônomo e independente com relação á Igreja. A imensa maioria de seus militantes é católica; porém, também há evangélicos e não crentes (poucos). A doutrina (socialista!) e a cultura do MST não fazem referência ao cristianismo; porém, podemos dizer que o estilo de militância, a fé na causa e a disposição ao sacrifício de seus membros, muitos têm sido vítimas de assassinatos e até de matanças coletivas durante os últimos anos, têm, provavelmente, fontes religiosas.

As correntes e os militantes cristãos que participam no movimento altermundista são muito diversos -ONGs, militantes dos sindicatos e partidos de esquerda, estruturas próximas à Igreja- e não partilham das mesmas escolhas políticas. Porém, a imensa maioria se reconhece nas grandes linhas da Teologia da Libertação, tal como a formularam Leonardo Boff, Frei Betto, Clodovis Boff, Hugo Assmann, Dom Tomás Balduino, Dom Helder Camara, Dom Pedro Casaldáliga, e tantos outros conhecidos e menos conhecidos, e partilham sua crítica ética e social do capitalismo e seu compromisso pela libertação dos pobres.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Apresentação

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MOVIMENTO SOLIDARIEDADE BELÉM!!!
BELÉM, PARÁ
Fundado para resgatar a origem de nosso partido, que vive hoje totalmente voltado para o fisiológismo, onde os gabinetes dos parlamentares estão acima do estatuto do PT. Neste sentido gostariamos de conclamar a todos(as) os militantes que amam o Partido dos trabalhadores, para vir conosco fazer esse debate de resgate partidário. Debate esse que não passa por cargos no Governo mais sim de como deve ser a relação do partido com a militância, principal patrimônio. Cláudio Rogério. Coordenador do Movimento Solidariedade Belém 91 - 8156 2364 / 9155 5647 / rogerecords@hotmail.com

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Oposição mira governo e acerta PT em cheio

Para Valter Pomar, opção por ampliar alianças trouxe problemas ao partido

Para Valter Pomar, opção por ampliar alianças trouxe problemas ao partido

31/08/2009

Renato Godoy de Toledo

da Redação

As denúncias da oposição contra o presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) visavam transferir uma crise do Congresso para alguns metros dali, no Palácio do Planalto. Até o momento a missão não foi cumprida, tendo apenas resvalado na ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com acusações que ainda carecem de comprovação.

A oposição mirou o governo como um todo, mas atingiu apenas parte de seu objetivo. Acertou em cheio o principal partido de sustentação do governo, o PT. O dia 18 de agosto foi agitado em Brasília. Com determinação do Planalto, Sarney foi absolvido. O líder petista no Senado, Aloizio Mercadante, disse que não aceitaria a posição do partido em prol do presidente da casa. Via Twitter, anunciou que renunciaria à liderança. Mas, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia seguinte, voltou atrás.

Mas os danos não pararam por aí. Ainda no dia 18, o senador Flávio Arns, então do PT paranaense, anunciou que se sente envergonhado pela postura do partido e anunciou sua desfiliação. Por motivos “extra-crise”, a senadora Marina Silva tornou pública a sua decisão de sair do PT e sinalizou que deve mesmo ser candidata à presidência pelo PV, partido em que se filiou no último domingo (dia 30). Além de perder uma senadora com notoriedade, o PT enxerga em Marina uma concorrente que pode atrair parte do eleitorado que votaria em Dilma.

Bandeira da ética

Desde 1995, quando a então Articulação Unidade na Luta – hoje reunida no campo Construindo um Novo Brasil – retomou o controle do PT, as bandeiras socialistas começaram a perder espaço no âmbito partidário, derrotando a posição dos grupos mais à esquerda. Assim, o principal ponto de referência das campanhas petistas passou a ser a conduta ética de seus parlamentares. De fato, ocorreram alguns exemplos, no início desta década, em que membros do PT notabilizaram-se por denunciar esquemas de corrupção, como em São Paulo, durante a gestão de Celso Pitta e na cidade de Embú das Artes (SP), onde um único vereador do partido denunciou e cassou todos os seus colegas.

Dentro dessa política, incluía-se uma flexibilidade em termos de aliança e de novas adesões ao partido. Algumas figuras estranhas à história do PT ingressaram na agremiação, como o senador Delcídio Amaral (MS), detentor de milhares de hectares de terra, e o ex-governador de Roraima, Flamarion Portela, que foi cassado por corrupção (em 2004) e tem uma postura notadamente anti-indigena.

Uma organização estritamente parlamentar

Para o sociólogo Francisco de Oliveira, professor aposentado da Universidade de São Paulo e ex-petista, as relações entre o governo e José Sarney demonstram a equiparação do PT aos demais partidos. “Há uma diminuição na representatividade do PT na sociedade. Finalmente, o partido entrou no grande jogo dos partidos que só vivem no parlamento. Com isso, digamos que a viagem redonda do PT se consumou: partiu da contestação desse procedimento tradicional, deu a volta e incorporou-se ao modelo que antes criticava”, analisa.

Oliveira também iguala o comando de Lula sob o partido ao tradicional mandonismo da política brasileira. “O PT vai continuar na política como um grupo que se organiza para o poder. Assim como o PMDB, por exemplo. A maneira como o presidente Lula age sobre o partido é caudilhesca. Assim como a maneira que ele se livra das pessoas incomodas. Ele acabou de humilhar um senador [Mercadante] com importantes serviços ao partido”, considera.

Na opinião do sociólogo, a maneira dura como o presidente dirige o partido resultou na escassa criação de novos quadros para o petismo. “Aquele que não obedece, ele destrói. Por isso que ele não tem sucessor. Para a candidatura à presidência, ele buscou um quadro que não é tradicional no partido [Dilma veio do PDT em 2000]. Em São Paulo, onde o partido nasceu, não há candidato. E o senhor Luiz Inácio Lula da Silva tem uma grande responsabilidade nisso”, avalia.

Filiações e posturas

A flexibilização em acordos partidários e a mudança de perfil apontada por Oliveira, tem trazido frutos ao PT. O senador Flávio Arns é fundador do PSDB e tornou-se petista no início desta década, após convite do diretório regional do Paraná. Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do partido, critica filiações como a de Arns. “O senador Flávio Arns nunca deveria ter entrado no PT. Sua conduta sempre foi tucana. Sua saída é benéfica e demonstra o erro dos que querem ampliar o PT, atraindo pessoas sem identidade ideológica”, defende.

Pomar também critica a postura instável de Mercadante, pelo fato de este ter sido um dos arquitetos da ampliação do leque de alianças do PT. “A conduta de Mercadante foi errática e errada. A 'escolha de Sofia' que tivemos que fazer no Senado é em grande medida produto de uma estratégia construída desde 1995, estratégia da qual Mercadante é um dos construtores. Sempre dissemos que esta estratégia tinha seus custos, inclusive eleitorais. O senador Mercadante, pelo visto, só descobriu isto agora, mas sua reação frente a isto foi errada, pois ele sabe muito bem que ruim com Sarney, pior com Marconi Perillo e a tucanagem”, analisa.

Dilma como alvo

A oposição tem como principal foco eventuais denúncias que envolvam a ministra Dilma, candidata do PT à sucessão. Tudo que foi levantado contra ela até o momento seria uma reunião entre ela e a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Procurada pelo jornal Folha de S. Paulo, Lina afirmou que, em reunião com Dilma, a ministra teria pedido celeridade nas investigações da Receita sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.

A ex-secretária – esposa de um ex-ministro de FHC – foi convocada a depor no Senado. Inquirida, disse não lembrar da data da reunião, mas recordou dos trajes da ministra. “A oposição está em campanha e seu alvo é o PT e Dilma. As acusações feitas contra ela são patéticas: a própria acusadora, além de ter problemas de memória, afirma que o suposto pedido da ministra não tinha nada de irregular. Quanto ao PT, o problema é político: a oposição, que quando era governo tinha aliança com o PMDB, acusa o PT pelos erros e crimes de peemedebistas”, diz Pomar.

31/08/2009

Renato Godoy de Toledo

da Redação

As denúncias da oposição contra o presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) visavam transferir uma crise do Congresso para alguns metros dali, no Palácio do Planalto. Até o momento a missão não foi cumprida, tendo apenas resvalado na ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com acusações que ainda carecem de comprovação.

A oposição mirou o governo como um todo, mas atingiu apenas parte de seu objetivo. Acertou em cheio o principal partido de sustentação do governo, o PT. O dia 18 de agosto foi agitado em Brasília. Com determinação do Planalto, Sarney foi absolvido. O líder petista no Senado, Aloizio Mercadante, disse que não aceitaria a posição do partido em prol do presidente da casa. Via Twitter, anunciou que renunciaria à liderança. Mas, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia seguinte, voltou atrás.

Mas os danos não pararam por aí. Ainda no dia 18, o senador Flávio Arns, então do PT paranaense, anunciou que se sente envergonhado pela postura do partido e anunciou sua desfiliação. Por motivos “extra-crise”, a senadora Marina Silva tornou pública a sua decisão de sair do PT e sinalizou que deve mesmo ser candidata à presidência pelo PV, partido em que se filiou no último domingo (dia 30). Além de perder uma senadora com notoriedade, o PT enxerga em Marina uma concorrente que pode atrair parte do eleitorado que votaria em Dilma.

Bandeira da ética

Desde 1995, quando a então Articulação Unidade na Luta – hoje reunida no campo Construindo um Novo Brasil – retomou o controle do PT, as bandeiras socialistas começaram a perder espaço no âmbito partidário, derrotando a posição dos grupos mais à esquerda. Assim, o principal ponto de referência das campanhas petistas passou a ser a conduta ética de seus parlamentares. De fato, ocorreram alguns exemplos, no início desta década, em que membros do PT notabilizaram-se por denunciar esquemas de corrupção, como em São Paulo, durante a gestão de Celso Pitta e na cidade de Embú das Artes (SP), onde um único vereador do partido denunciou e cassou todos os seus colegas.

Dentro dessa política, incluía-se uma flexibilidade em termos de aliança e de novas adesões ao partido. Algumas figuras estranhas à história do PT ingressaram na agremiação, como o senador Delcídio Amaral (MS), detentor de milhares de hectares de terra, e o ex-governador de Roraima, Flamarion Portela, que foi cassado por corrupção (em 2004) e tem uma postura notadamente anti-indigena.

Uma organização estritamente parlamentar

Para o sociólogo Francisco de Oliveira, professor aposentado da Universidade de São Paulo e ex-petista, as relações entre o governo e José Sarney demonstram a equiparação do PT aos demais partidos. “Há uma diminuição na representatividade do PT na sociedade. Finalmente, o partido entrou no grande jogo dos partidos que só vivem no parlamento. Com isso, digamos que a viagem redonda do PT se consumou: partiu da contestação desse procedimento tradicional, deu a volta e incorporou-se ao modelo que antes criticava”, analisa.

Oliveira também iguala o comando de Lula sob o partido ao tradicional mandonismo da política brasileira. “O PT vai continuar na política como um grupo que se organiza para o poder. Assim como o PMDB, por exemplo. A maneira como o presidente Lula age sobre o partido é caudilhesca. Assim como a maneira que ele se livra das pessoas incomodas. Ele acabou de humilhar um senador [Mercadante] com importantes serviços ao partido”, considera.

Na opinião do sociólogo, a maneira dura como o presidente dirige o partido resultou na escassa criação de novos quadros para o petismo. “Aquele que não obedece, ele destrói. Por isso que ele não tem sucessor. Para a candidatura à presidência, ele buscou um quadro que não é tradicional no partido [Dilma veio do PDT em 2000]. Em São Paulo, onde o partido nasceu, não há candidato. E o senhor Luiz Inácio Lula da Silva tem uma grande responsabilidade nisso”, avalia.

Filiações e posturas

A flexibilização em acordos partidários e a mudança de perfil apontada por Oliveira, tem trazido frutos ao PT. O senador Flávio Arns é fundador do PSDB e tornou-se petista no início desta década, após convite do diretório regional do Paraná. Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do partido, critica filiações como a de Arns. “O senador Flávio Arns nunca deveria ter entrado no PT. Sua conduta sempre foi tucana. Sua saída é benéfica e demonstra o erro dos que querem ampliar o PT, atraindo pessoas sem identidade ideológica”, defende.

Pomar também critica a postura instável de Mercadante, pelo fato de este ter sido um dos arquitetos da ampliação do leque de alianças do PT. “A conduta de Mercadante foi errática e errada. A 'escolha de Sofia' que tivemos que fazer no Senado é em grande medida produto de uma estratégia construída desde 1995, estratégia da qual Mercadante é um dos construtores. Sempre dissemos que esta estratégia tinha seus custos, inclusive eleitorais. O senador Mercadante, pelo visto, só descobriu isto agora, mas sua reação frente a isto foi errada, pois ele sabe muito bem que ruim com Sarney, pior com Marconi Perillo e a tucanagem”, analisa.

Dilma como alvo

A oposição tem como principal foco eventuais denúncias que envolvam a ministra Dilma, candidata do PT à sucessão. Tudo que foi levantado contra ela até o momento seria uma reunião entre ela e a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Procurada pelo jornal Folha de S. Paulo, Lina afirmou que, em reunião com Dilma, a ministra teria pedido celeridade nas investigações da Receita sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.

A ex-secretária – esposa de um ex-ministro de FHC – foi convocada a depor no Senado. Inquirida, disse não lembrar da data da reunião, mas recordou dos trajes da ministra. “A oposição está em campanha e seu alvo é o PT e Dilma. As acusações feitas contra ela são patéticas: a própria acusadora, além de ter problemas de memória, afirma que o suposto pedido da ministra não tinha nada de irregular. Quanto ao PT, o problema é político: a oposição, que quando era governo tinha aliança com o PMDB, acusa o PT pelos erros e crimes de peemedebistas”, diz Pomar.









31/08/2009

Renato Godoy de Toledo

da Redação



As denúncias da oposição contra o presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) visavam transferir uma crise do Congresso para alguns metros dali, no Palácio do Planalto. Até o momento a missão não foi cumprida, tendo apenas resvalado na ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com acusações que ainda carecem de comprovação.

A oposição mirou o governo como um todo, mas atingiu apenas parte de seu objetivo. Acertou em cheio o principal partido de sustentação do governo, o PT. O dia 18 de agosto foi agitado em Brasília. Com determinação do Planalto, Sarney foi absolvido. O líder petista no Senado, Aloizio Mercadante, disse que não aceitaria a posição do partido em prol do presidente da casa. Via Twitter, anunciou que renunciaria à liderança. Mas, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia seguinte, voltou atrás.



Mas os danos não pararam por aí. Ainda no dia 18, o senador Flávio Arns, então do PT paranaense, anunciou que se sente envergonhado pela postura do partido e anunciou sua desfiliação. Por motivos “extra-crise”, a senadora Marina Silva tornou pública a sua decisão de sair do PT e sinalizou que deve mesmo ser candidata à presidência pelo PV, partido em que se filiou no último domingo (dia 30). Além de perder uma senadora com notoriedade, o PT enxerga em Marina uma concorrente que pode atrair parte do eleitorado que votaria em Dilma.



Bandeira da ética



Desde 1995, quando a então Articulação Unidade na Luta – hoje reunida no campo Construindo um Novo Brasil – retomou o controle do PT, as bandeiras socialistas começaram a perder espaço no âmbito partidário, derrotando a posição dos grupos mais à esquerda. Assim, o principal ponto de referência das campanhas petistas passou a ser a conduta ética de seus parlamentares. De fato, ocorreram alguns exemplos, no início desta década, em que membros do PT notabilizaram-se por denunciar esquemas de corrupção, como em São Paulo, durante a gestão de Celso Pitta e na cidade de Embú das Artes (SP), onde um único vereador do partido denunciou e cassou todos os seus colegas.

Dentro dessa política, incluía-se uma flexibilidade em termos de aliança e de novas adesões ao partido. Algumas figuras estranhas à história do PT ingressaram na agremiação, como o senador Delcídio Amaral (MS), detentor de milhares de hectares de terra, e o ex-governador de Roraima, Flamarion Portela, que foi cassado por corrupção (em 2004) e tem uma postura notadamente anti-indigena.



Uma organização estritamente parlamentar



Para o sociólogo Francisco de Oliveira, professor aposentado da Universidade de São Paulo e ex-petista, as relações entre o governo e José Sarney demonstram a equiparação do PT aos demais partidos. “Há uma diminuição na representatividade do PT na sociedade. Finalmente, o partido entrou no grande jogo dos partidos que só vivem no parlamento. Com isso, digamos que a viagem redonda do PT se consumou: partiu da contestação desse procedimento tradicional, deu a volta e incorporou-se ao modelo que antes criticava”, analisa.

Oliveira também iguala o comando de Lula sob o partido ao tradicional mandonismo da política brasileira. “O PT vai continuar na política como um grupo que se organiza para o poder. Assim como o PMDB, por exemplo. A maneira como o presidente Lula age sobre o partido é caudilhesca. Assim como a maneira que ele se livra das pessoas incomodas. Ele acabou de humilhar um senador [Mercadante] com importantes serviços ao partido”, considera.

Na opinião do sociólogo, a maneira dura como o presidente dirige o partido resultou na escassa criação de novos quadros para o petismo. “Aquele que não obedece, ele destrói. Por isso que ele não tem sucessor. Para a candidatura à presidência, ele buscou um quadro que não é tradicional no partido [Dilma veio do PDT em 2000]. Em São Paulo, onde o partido nasceu, não há candidato. E o senhor Luiz Inácio Lula da Silva tem uma grande responsabilidade nisso”, avalia.



Filiações e posturas



A flexibilização em acordos partidários e a mudança de perfil apontada por Oliveira, tem trazido frutos ao PT. O senador Flávio Arns é fundador do PSDB e tornou-se petista no início desta década, após convite do diretório regional do Paraná. Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do partido, critica filiações como a de Arns. “O senador Flávio Arns nunca deveria ter entrado no PT. Sua conduta sempre foi tucana. Sua saída é benéfica e demonstra o erro dos que querem ampliar o PT, atraindo pessoas sem identidade ideológica”, defende.

Pomar também critica a postura instável de Mercadante, pelo fato de este ter sido um dos arquitetos da ampliação do leque de alianças do PT. “A conduta de Mercadante foi errática e errada. A 'escolha de Sofia' que tivemos que fazer no Senado é em grande medida produto de uma estratégia construída desde 1995, estratégia da qual Mercadante é um dos construtores. Sempre dissemos que esta estratégia tinha seus custos, inclusive eleitorais. O senador Mercadante, pelo visto, só descobriu isto agora, mas sua reação frente a isto foi errada, pois ele sabe muito bem que ruim com Sarney, pior com Marconi Perillo e a tucanagem”, analisa.



Dilma como alvo

A oposição tem como principal foco eventuais denúncias que envolvam a ministra Dilma, candidata do PT à sucessão. Tudo que foi levantado contra ela até o momento seria uma reunião entre ela e a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Procurada pelo jornal Folha de S. Paulo, Lina afirmou que, em reunião com Dilma, a ministra teria pedido celeridade nas investigações da Receita sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.

A ex-secretária – esposa de um ex-ministro de FHC – foi convocada a depor no Senado. Inquirida, disse não lembrar da data da reunião, mas recordou dos trajes da ministra. “A oposição está em campanha e seu alvo é o PT e Dilma. As acusações feitas contra ela são patéticas: a própria acusadora, além de ter problemas de memória, afirma que o suposto pedido da ministra não tinha nada de irregular. Quanto ao PT, o problema é político: a oposição, que quando era governo tinha aliança com o PMDB, acusa o PT pelos erros e crimes de peemedebistas”, diz Pomar.