terça-feira, 8 de setembro de 2009


Na Íntegra o pronunciamento do presidente da República, Luiz Inácio Lula
da Silva, à nação brasileira, ontem à noite, em cadeia nacional de
rádio e televisão:

"Queridas Brasileiras e Queridos Brasileiros,

É comum que o 7 de setembro sirva para a gente enaltecer o passado e
pensar o presente. Desta vez é diferente: este é o 7 de setembro do
Brasil festejar o futuro. De celebrar uma nova independência.

Esta nova independência tem nome, forma e conteúdo. Seu nome é
pré-sal; seu conteúdo são as gigantescas jazidas de petróleo e gás
descobertas nas profundezas do nosso mar; sua forma é o conjunto de
projetos de lei que enviamos, há poucos dias, ao Congresso Nacional. E
que vai garantir que esta riqueza seja corretamente utilizada para o
bem do Brasil e de todos os brasileiros.

Peço a cada um de vocês que acompanhe passo a passo as discussões
destas leis no Congresso. Que se informe, reflita, e entre de corpo e
alma nesse debate tão importante para os destinos do Brasil e para o
futuro de nossos filhos e netos.

Posso resumir em duas frases a proposta do governo: de um lado, ela
garante que a maior parte da riqueza do pré-sal fique nas mãos dos
brasileiros; de outro, ela impede que qualquer governante gaste de
forma irresponsável estes recursos. E mais: obriga que este dinheiro
seja aplicado em educação, ciência e tecnologia, cultura, defesa do
meio-ambiente e combate à pobreza.

Minhas amigas e meus amigos,

O pré-sal é uma das maiores descobertas de todos os tempos. Ainda não
se pode dizer, com exatidão, quantos bilhões de barris de petróleo
existem nele. Mas já se pode garantir, com toda segurança, que ele
colocará o Brasil entre os países com maiores reservas de petróleo e
gás do mundo.

Elas se espalham por uma área de 149 mil quilômetros quadrados, que
começa no litoral do Espírito Santo e termina no de Santa Catarina. É
uma área do tamanho do estado do Ceará.

As jazidas ficam debaixo de uma lâmina de água e de camada de sal,
que, em alguns pontos, correspondem a dez morros do corcovado
empilhados.
Minhas amigas e meus amigos,

O que deve fazer um povo livre, responsável e soberano ao receber
tamanha dádiva de Deus? Garantir que esta riqueza não escape de suas
mãos, buscar os meios mais eficientes de explorá-la e modernizar suas
leis para não repetir os erros de outros países.

A história tem mostrado que a riqueza do petróleo é uma faca de dois
gumes. Quando bem explorada, traz progresso para o povo. Quando mal
explorada, ela traz conflitos, desperdícios, agressão ao
meio-ambiente, desorganização da economia e privilégios para uns
poucos. Assim, alguns países pobres, ricos em petróleo, não
conseguiram jamais sair da miséria.

Por isso, dei orientações bem claras aos ministros. Primeira: o
petróleo e o gás pertencem ao povo brasileiro. Como no pré-sal, os
possíveis sócios terão poucos riscos, eles não podem ficar com a parte
da renda. Ela tem que ser do povo. Segunda orientação: o Brasil não
pode ser um mero exportador de óleo cru. Vamos agregar valor aqui
dentro, exportando derivados, como gasolina, diesel e produtos
petroquímicos, que valem muito mais. Vamos construir uma poderosa
indústria de equipamentos e serviços e gerar milhares e milhares de
empregos brasileiros. Terceira orientação: não vamos nos deslumbrar e
sair por aí, como novos ricos, torrando dinheiro em bobagens. O
pré-sal é um passaporte para o futuro.

Vamos investir seus recursos naquilo que temos de mais precioso e
promissor: nossos filhos, nossos netos, nosso futuro.

Minhas amigas e meus amigos,

Os ministros seguiram estas diretrizes e honraram o compromisso com o
povo brasileiro. A principal mudança que estamos propondo é que, nas
áreas ainda não exploradas do pré-sal, passe a vigorar o modelo de
partilha. Quase todos os países que têm grandes reservas e baixo risco
de exploração adotam este sistema. Ele garante que o estado e o povo
continuem donos da maior parte do óleo e do gás mesmo depois de sua
extração.

O modelo de concessão, que foi adotado em 97, não se adapta a nova
situação. Seria um erro mantê-lo no pré-sal. Um erro grave. Ele foi
implantado quando não sabíamos da existência de grandes reservas e o
País não tinha recursos para explorar seu petróleo.

Estamos propondo, também, que a Petrobras seja a operadora de toda
área. Ou seja, exerça atividades de exploração e produção, com uma
participação mínima de 30% em todos os blocos.

Não podia ser diferente. Afinal, temos dentro de casa uma das maiores,
melhores e mais respeitadas empresas de petróleo do mundo. Assim
saberemos tudo sobre as reservas, aperfeiçoaremos nossa tecnologia e
faremos da Petrobras uma empresa ainda mais forte.

Este trabalho será complementado pela Petro-sal, uma nova empresa
estatal, enxuta e altamente qualificada, que vai gerir os contratos de
partilha e os de comercialização. Ela não vai concorrer com a
Petrobras. Sua função é outra – a de ser o olho do povo na
fiscalização de toda operação.

Minhas amigas e meus amigos,

Hoje o Brasil tem todas as condições políticas, econômicas e
tecnológicas para enfrentar este desafio. A economia do Brasil vive um
novo momento.

De 2003 a 2008, crescemos em média, 4,1% ao ano. Nos últimos dois
anos, mais que 5%. O país gerou cerca de onze milhões de empregos com
carteira assinada. O desemprego caiu fortemente, de 11,7% em 2003,
para 8% hoje.

As taxas de juros são os menores das últimas décadas.

Não só pagamos a dívida externa, como acumulamos reservas de 215
bilhões de dólares. E mais: reduzimos a miséria e as desigualdades.
Mais de 30 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza. E
destes, 20 milhões ingressaram na nova classe média, fortalecendo o
mercado interno e dando vigoroso impulso à nossa economia.

O fato é que hoje temos uma economia organizada e em crescimento, que
foi testada na mais grave crise internacional desde 29 e saiu-se muito
bem. Não só, não quebramos como fomos um dos últimos países a entrar
na crise e estamos sendo um dos primeiros a sair dela. Antes, éramos
alvo de chacotas e de imposições. Hoje, nossa voz é ouvida lá fora com
atenção e respeito.

A Petrobras de hoje é a cara deste novo Brasil. É a oitava maior
empresa do mundo. Não existe nenhuma empresa, na Europa, do tamanho
dela. Nas Américas, fica atrás apenas de três gigantes
norte-americanas. E é a segunda empresa em lucratividade. E, entre as
petroleiras, a segunda em valor de mercado no mundo.

A Petrobras chegou aí, entre outros motivos, porque este governo
acreditou e investiu, dando condições para que ela aumentasse a
produção, encomendasse plataformas, sondas, modernizasse e ampliasse
refinarias, treinasse e contratasse funcionários. Além de construir
uma grande infra-estrutura de gás natural e entrar na área de
biocombustíveis.

O coroamento deste esforço foi exatamente a descoberta, pela própria
Petrobras, das reservas do pré-sal. Um feito extraordinário, que
encheu de admiração o mundo e de orgulho os brasileiros.

Minhas amigas e meus amigos,

Este é um governo que acredita no Brasil e no que ele tem de mais
rico: o seu povo.

É por isso que propomos que os recursos do pré-sal sejam colocados em
um fundo social, controlado pela sociedade, e que será aplicado,
majoritariamente, em desenvolvimento humano. De um lado, o novo fundo
será uma mega-poupança, um passaporte para o futuro, que nos ajudará,
entre outras coisas, a pagar a imensa dívida que o País tem com a
educação e a pobreza.

De outro lado, funcionará, também, como um dique contra a entrada
desordenada de dinheiro externo, evitando seus efeitos nocivos e
garantindo que nossa economia siga saudável, forte e baseada no
trabalho e no talento de nossa gente.

Todos estes temas estão agora em discussão no Congresso Nacional e eu
sei que contaremos, mais uma vez, com o apoio livre e soberano do
Legislativo na construção deste novo Brasil.

Uma ação desta amplitude só pode ocorrer, de forma saudável, em um
ambiente democrático. A democracia é o ambiente mais saudável para o
crescimento.

O embate e a paixão política fazem parte do universo democrático, mas
não podemos deixar que interesses menores retardem ou desviem a marcha
do futuro.

Uma democracia só se fortalece com a participação da sociedade. Por
isso se mobilize, converse com seus amigos, escreva pra seu deputado,
seu senador, pra que eles apóiem o que é melhor para o Brasil.

O Brasil não tem medo de crescer, nem de buscar os melhores caminhos.
Não vai ficar preso a dogmas, a modelos fechados ou a falsas verdades.

O Brasil acredita no livre mercado, mas também no papel do estado como
indutor do desenvolvimento. E saberá sempre buscar o equilíbrio que
garanta o melhor para seu povo.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

É tempo de ampliarmos, ainda mais, a nossa esperança no Brasil. A
independência não é um quadro na parede nem um grito congelado na
história. A independência é uma construção do dia-a-dia. A reinvenção
permanente de uma nação. A caminhada segura e soberana para o futuro.

Viva o 7 de setembro! Boa noite!"