sábado, 27 de junho de 2009

NOTÍCIAS
26/06/2009 - 15:43
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Lula: interesses pessoais não devem se sobrepor ao projeto nacional em 2010


Leia abaixo entrevista com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicada pelo jornal Zero Hora nesta sexta-feira (26):
O que é melhor para a campanha da ministra Dilma Rousseff nos Estados em 2010? Chapa puro-sangue com PT na cabeça ou alianças com o PMDB?Luiz Inácio Lula da Silva – Trabalho com a hipótese de construir uma aliança entre PT e PMDB, PDT e PTB. Uma parte importante da base do governo precisa compor nos Estados para que a gente possa ganhar e governar. O problema não é ganhar, é governar. É você ter um grupo de pessoas dispostas a trabalhar para destravar um País, um Estado, para que a gente possa apresentar à sociedade uma perspectiva. A Dilma tem de trabalhar com a possibilidade de um grande leque de alianças para ganhar bem e governar bem.
O PT está disposto a fazer sacrifícios?Não temos o direito de não fazer sacrifício e permitir que o desejo pessoal de alguém prevaleça sobre os interesses coletivos de um partido, seja estadual ou nacional. É preciso um debate para saber o seguinte: o que nos interessa neste momento? Quais os Estados que temos de disputar, em quais temos chances? Que tipo de aliança poderemos fazer e o que queremos construir? Se fizermos essa discussão corretamente, fica fácil construir as alianças. É preciso construir um time que vá do goleiro ao ponta-esquerda para trabalhar junto nessa campanha. Essa minha concepção vale do Oiapoque ao Chuí. Mas quem decide isso são os partidos. Só espero que as pessoas tenham aprendido.
Como o senhor vê a ideia de o PT abrir mão da candidatura ao governo de SP em favor do deputado Ciro Gomes (PSB)?O Ciro tem todas as condições de ser candidato em qualquer lugar do Brasil. Por enquanto, só vejo especulação, nada sério. Mas acho que o Ciro daria trabalho em São Paulo.
Esta semana o senhor criticou a imprensa por dar tanto espaço à crise no Senado. O senhor segue apoiando o senador José Sarney ou defende o afastamento dele da presidência da Casa?Não critico a imprensa por conta do Senado. É pelo denuncismo desvairado que, às vezes, não tem retorno. Há uma prevalência da desgraça sobre as coisas boas. Talvez venda mais jornal. Citei um jornal quando fiz a crítica. Você tinha a volta do crescimento do emprego, cento e poucas mil vagas criadas. E a manchete era desse tamanho (faz um gesto com as duas mãos para indicar altura) sobre um emprego equivocado no Senado. Os milhares de empregos criados estavam numa notícia secundária. A nação precisa de boas notícias, de autoestima, para poder vencer esse embate com a crise internacional. Sobre as denúncias no Senado, que se faça investigação. Quem estiver errado deve ser punido. Todos os senadores têm mais de 35 anos de idade, estão na idade adulta. O Sarney já anunciou que vai investigar.
A defesa que o senhor faz de Sarney tem a ver com a eleição de 2010? A crise do Senado pode agravar a relação com o PMDB, que já não anda boa?Não acho que algum senador vá renunciar ao mandato. Eles vão se acertar e prestar contas. A minha cabeça não trabalha pensando em 2010. Agora, tenho clareza de que nós saíremos bem em 2010 se a gente estiver bem em 2009.
O vice ideal para Dilma seria do PMDB?Vamos discutir isso. Veja a importância do PMDB no Brasil, um partido que tem mais vereadores, mais deputados, mais senadores, mais governadores. Tem um potencial muito grande. Mas não é apenas isso que credencia alguém para ser vice. Primeiro, o vice tem que ser da concordância de quem vai ser candidato a presidente. Você não pode ter um vice que não tenha uma afinidade política, ideológica e visão de Brasil.
O senhor tem acompanhado o tratamento da ministra Dilma. Como ela está? Há riscos de prejuízo à campanha dela?Por tudo que tenho conversado com os médicos, não acredito (em prejuízos). Mas doença é doença. No momento certo, o médico vai dizer se parou ou não o tratamento. A Dilma tem trabalhado a mesma coisa. Ela tem um ou dois dias por semana que se sente mais cansada, depois da quimioterapia, e diminui um pouquinho o ritmo. Todo mundo que já teve esse tipo de câncer diz que é curável. A Dilma vai ficar extraordinária e a hora que tiver que anunciar estará pronta para o embate. Se for candidata mesmo – depende ainda dos partidos e dela própria –, a partir de março se afasta e começa a campanha.
Quem vai para o lugar dela? O ex-ministro Antonio Palocci?Não, não. Não posso discutir agora o que vou fazer. Mas não pretendo colocar nenhum ministro novo no governo.
Pelo menos 14 ministros devem sair até abril para concorrer nas eleições. Como o senhor pretende conduzir as substituições: com indicações políticas ou recorrendo a técnicos?Não vou trazer uma pessoa para chegar sem conhecer o histórico do próprio ministério, das obras, dos projetos. Desse jeito, irei paralisar o governo por dez meses. Na hora que o ministro for saindo, o secretário executivo assume e vai tocando. Não quero mexer no andamento das coisas que estamos fazendo.
Na oposição, o senhor e o PT criticavam muito o antecessor, Fernando Henrique por viajar demais. Nenhum presidente colocou o Brasil tão em evidência como o senhor nessas missões internacionais. O que mudou e qual a utilidade desse trabalho?Mas se você pegar o meu discurso verá que eu dizia: “Ele (Fernando Henrique) tem o direito de viajar pra fora, o que é lamentável é que ele não viaje aqui dentro”. E viajo muito lá fora e viajo muito aqui dentro. É inexorável. O número de aliados que o Brasil estabeleceu nesses seis anos é muito grande. As pessoas querem ouvir o Brasil.
Qual é a utilidade desse seu trabalho no exterior?O momento histórico me deu essa projeção. Nós levamos cinco anos para poder consolidar o Bric (grupo formado pelos grandes países emergentes – Brasil, Rússsia, Índia e China) como uma instituição. Vamos ter a segunda reunião no Brasil no final do ano que vem. O Brasil está muito importante. Lembro quantas críticas recebi quando fiz a primeira viagem à África. “Mas por que na África? Não tem nada para vender na África.” Pergunta ao ministro (da Indústria e Comércio) Miguel Jorge, que voltou com uma caravana empresarial da África agora. A gente não tem o que vender é para a Alemanha, Suécia, EUA, porque precisa mais valor agregado, competitividade tecnológica. Mas para a África, América Latina, parte do mundo asiático e para o mundo árabe, o Brasil só tem é que vender.
O senhor vai encerrar o seu governo sem a reforma política e sem a reforma tributária?Mandei as duas para o Congresso. Não sei quantos anos tenho de vida, mas quero estar perto para ver o dia em que alguns empresários disserem que é preciso fazer reforma tributária. O DEM fez da reforma tributária a bandeira dele. Mas eles não querem. Mandei duas propostas. Em abril de 2003 e outra no ano passado. Quando fazemos as reuniões com governadores, prefeitos e empresários, todo mundo concorda. Quando chega no Congresso, ninguém concorda mais.
O senhor tem dito que quer ser um cidadão do mundo depois de 2010. O presidente Barack Obama disse que o senhor é ‘o cara’. Ele seria o seu cabo eleitoral para o senhor ocupar um espaço na ONU, Banco Mundial? Qual é o seu desejo pessoal?Quando falei cidadão do mundo, me perguntaram o que queria fazer. Não tenho pretensões. A minha maior pretensão agora é ver se eu pago a promessa que eu fiz para Dona Marisa em 1978. Ela queria que eu deixasse o sindicato e prometi que era o último mandato e que, depois, ia me dedicar à família. Já são 31 anos e não consegui. Pretendo me voltar um pouco para a família. Também não quer dizer que vá deixar de fazer política. Gostaria de trabalhar muito essa questão de integração da América Latina, da África. Acho que precisamos cuidar com muito carinho da África. Por isso, estou indo pra lá no dia 1º, na Cúpula Africana, na Líbia.
Mas com essa popularidade que o senhor tem, será que na eleição de 2014 a dona Marisa resiste? Pesa mais do que uma pressão para que o senhor volte a disputar a Presidência?Tenho que recusar discutir 2014, porque não seria benéfico para mim e para quem quero eleger. Vamos supor que eu eleja a companheira Dilma a candidata do PT e o povo brasileiro eleja a Dilma presidente do País. Ora, qual é o meu papel? Trabalhar para que ela faça o máximo possível e ela tem o direito de querer ser candidata à reeleição. Senão, o que acontece? Se eu não tiver essa consciência de que ela tem de fazer mais e fazer melhor, fazer o governo dela sem tutela e patrulhamento de ninguém, sem saudosismos, você tira a possibilidade de uma grande mulher fazer um grande governo. Mas ela ficar no governo vendo que eu sou sombra, “ah, em 2014 ele vai voltar”... Vou torcer para que ela possa fazer o melhor e ser candidata à reeleição. Se for um adversário que ganhe, aí sim pode estar previsto em 2014 eu voltar. Depende.
Há uma posição de que as pessoas beneficiadas com o Bolsa-Família não saem do sistema. Estaria faltando um segundo passo, para as pessoas recuperem a cidadania?Essa visão elitista dos brasileiros é responsável por mais de um século de empobrecimento generalizado. Com o Programa Luz para Todos, 83% das pessoas que receberam energia compraram televisão, 79% geladeira, 44% aparelho de som, 44% voltaram a estudar à noite. Alguém que nasceu na avenida Copacabana, que nunca teve problema, acha que R$ 80 é pouco, mas para um pobre é muito. À medida que a economia vai crescendo, as pessoas vão deixando o Bolsa-Família e deixam outros entrarem. 600 mil já deixaram o programa.
O senhor vai ampliar o prazo de redução do IPI?Não posso falar porque as empresas estão falando por aí: “Compre seu carro logo”. Falando em política tributária, imposto e política social, quero dar uma explicação lógica. Todos queremos que o Brasil tenha uma política tributária muito mais simplificada. O ideal é que a gente aumente o número de contribuintes. A carga tributária brasileira não é algo a ser comparado com os países desenvolvidos. Num País que tem 10% de carga tributária, não há Estado. Pode mapear quais são os países. A política social é extremamente importante porque por mais de 20 anos se discutiu no Brasil se a gente deveria distribuir para crescer ou crescer para distribuir. Começamos a fazer os dois juntos e o resultado foi extraordinário. A ascensão dessa molecada por conta do ProUni: são 545 mil jovens da periferia na universidade, 40% deles negros. A política social é uma coisa barata, ela perpassa a ignorância, a violência. Na hora em que o pobre tem uma ajuda, todo mundo vai melhor, vai ter menos bandido, menos violência.
A oposição ganharia se usasse esse discurso?Não sei, porque não é só o discurso, é preciso olhar nos olhos das pessoas.
O senhor acha que a oposição torceu para que a crise afetasse o Brasil?Torceu e muito. Teve gente que até acendeu vela.
Houve gente que queimou os dedos?Uns queimaram a língua, outros queimaram os dedos. Quando deixar o governo, vou montar um grupo para pesquisar as análises econômicas que fizeram sobre o meu governo, para saber quem errou e acertou. Sobre a crise, ninguém precisou explicar porque ela era internacional. Tivemos dois momentos da crise. Em setembro do ano passado eu estava no Panamá quando surgiram os primeiros sinais. Voltei, fiz várias reuniões com economistas, analisamos e percebemos que a crise chegaria muito pequena no Brasil. Até que desapareceu o crédito no mundo inteiro. Tomamos todas as medidas necessárias e somos reconhecidos no mundo inteiro.
É por essa questão de orgulho que o senhor não quer que a Petrobras sofra uma CPI?Se tem um fato determinado, diga e faça a CPI. O que não pode é, de forma irresponsável, pegar a mais importante empresa do País e tentar, um ano antes das eleições, achincalhar. Numa CPI sem fato determinado, vale tudo. Se tiver de fazer, o que queremos é uma coisa séria. O que se propôs não tem nada de seriedade.
O que incomoda o senhor na CPI são os investimentos da Petrobras, que podem ser prejudicados, ou é o caráter eleitoral?Acho que CPI não pode ser feita para fins apenas de disputa eleitorais. É não respeitar o País. Agora, a CPI é um instrumento da oposição em qualquer lugar do mundo. Estamos em uma crise econômica profunda, em que a Petrobras teve dificuldades para pegar dinheiro emprestado lá fora. Se uma empresa como a Petrobras encontra dificuldades em arrumar dinheiro, fico imaginando se começar um processo de achincalhamento. O denuncismo é isso. Acho que a Petrobras deveria ser investigada pelo Tribunal de Contas da União e pelo Ministério Público.
O ministro Tarso Genro tem defendido a punição dos torturadores do regime militar. Ele faz isso com o aval do senhor ou é uma posição pessoal dele?É uma tese do Tarso. No governo, temos pessoas que pensam diferente.
E o senhor?Não sou jurista (risos).
O que o senhor diria para o cidadão brasileiro. Deve gastar ou esperar mais um pouco?Deve gastar. As pessoas podem acreditar que o País está mais sólido do que já esteve. É importante o povo comprar. Não quero que faça dívidas. Mas se tiver uma economia, compre.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O GOLPISMO PERMANENTE DE UMA ELITE IRRESPONSÁVEL
O Brasil atravessa um momento inédito em sua história: sob o governo do Presidente Lula e do PT, nosso País vive situações de grandeza e de respeito dentro de nossas fronteiras, assim como no mundo inteiro.
A citação freqüente do nome de Lula e de seu compromisso com os povos mais pobres, feitas pelo Presidente Estadunidense Obama, é apenas um símbolo no oceano de reconhecimentos do presidente operário, Lula é a alegria dos Brasileiros, pois em sua grande maioria, todos reconhecem sua competência e liderança.
No Estado do Pará, mesmo que a disputa entre as tendências internas, muitas vezes atrapalhe o comando político do governo estadual, só não enxerga os avanços quem é cego e não tem compromissos com o povo e o território paraense. O Programa Bolsa Trabalho que já beneficia mais 40.000 jovens, o programa asfalto participativo que beneficiou até 2009 mais de 100 municípios, a aquisição de mais de 500 viaturas entre camionetes, automóveis, motos e bicicletas, para estruturar o trabalho da segurança pública e das polícias militar e civil, o concurso público para contratar mais de 4.000 novos policiais, os programas de atendimento aos estudantes da rede estadual da SEDUC, o apoio da SETRAN com o Secretário Ganzer que já atendeu mais de 120 municípios, a liberação de recursos na SEPLAN e do fundo estadual que libera projetos de desenvolvimento aos municípios, o atendimento na Secretaria de Integraçõ Regional e a criação da Sala das Prefeituras, o respeito a Prefeitos e Vereadores, demonstram os compromissos da governadora Ana Júlia com o Povo e o território do Pará.
Mas, apesar do tanto que o PT e seus governante têm feito pelo povo, assistimos estarrecidos a propaganda do PSDB e do DEM atacando o governo Lula e o governo de Ana Júlia. Àqueles que privatizaram o Estado, que deixaram o estado brasileiro à beira da falência, que nunca tiveram compromissos com o povo, que sempre estiveram mamndo nas tetas dos governos militares e seus aliados hoje atacam os governos que mais se identificam com o povo e suas necessidades de inclusão social, cultural e econômica.
Aqui em Santa Luzia do Pará têm-se repetido a mesmice da oposição nacional. O grupo político comandado pelo deputado Adamor, vive o tempo inteiro tentando criar situações para atrapalhar o governo do PT. Juntamente com seus aliados apóiam invasões de terra e jogam a responsabilidade no governo do Louro do PT; fazem audiência pública, para promover palanque pro seu deputado e jogar responsabilidade para o governo do PT; usam o padre católico para fazer denuncismo, utilizando a Igreja com fins politiqueiros, usando de mentiras para confundir a opinião pública.
Na Câmara Municipal o joguete do presidente, é apenas um boneco manobrado pelo deputado, que apoiado pelo famigerado Nego Côco (olha o nome do Vereador), e pela Vereadora Saldanha, são apenas amostra de uma fotografia de incompetentes e descompromissados. Essa turma são como corvos ou urubus, ficam voando em torno de carniça, pois na verdade são são como sanguessugas, vivem às custas do sangue dos outros, Xô azarados, vão procurar sombra noutro lugar, pois aqui não é mais lugar para preguiçosos e corruptos.
Sexta-feira, 26 de Junho de 2009

O ineditismo de Dilma!
Enviado pelo companheiro do Brasil: Conjuntura Política para o BLGO DA DILMA: Muito se fala das velhas raposas da política brasileira, figuras que perpetuam no poder, alternando ora na Chefia do Executivo, ora nas lideranças do Legislativo, até que, no final da carreira, que quase sempre coincide com o final da vida, deparam com a oferta de uma cadeira em um desses cobiçados tribunais, onde suas mordomias lhes acompanharão até os respectivos sepulcros. 2010 poderá inovar, e ao contrário do que aconteceu nos últimos 25 anos, há chance de Dilma se tornar Presidente do Brasil sem ao menos ser testada nas urnas, em eleições majoritárias ou proporcionais. Todos, que governaram o país a partir de sua redemocratização, haviam sido testados e aprovados pelo menos por uma parcela da população. De certa forma, mérito de Dilma, que tem coragem de enfrentar as urnas no maior pleito eleitoral nacional, desconhecendo seu próprio poder de fogo. Muitos críticos, e a própria oposição, afinaram um discurso desmerecendo e desacreditando a candidata, afirmando que lhe falta experiência em governar e, mais ainda, no jogo de interesses do Legislativo. Em contrapartida, seu ineditismo pode garantir-lhe uma pureza de imagem, alguém que não carrega consigo os vícios e práticas inescrupulosas que acompanham o dia-a-dia das velhas raposas. Mesmo estando ainda muito cedo para esse Show que se formou em torno das eleições 2010, pode-se esperar que surpresas não irão faltar, desde um Ciro Gomes disputando o Palácio dos Bandeirantes, até mesmo o Brasil tendo a sua frente, pela primeira vez, uma mulher, ousada e guerreira, esta porque terá vencido uma doença que assombra nossa população, e aquela por aceitar ser lançada. Mas, mais do que isso, colocará para correr velhas raposas desse território, que ainda tem lei.
Postado por DANIEL PEARL
Sexta-feira, 26 de Junho de 2009

PERERECA AMAZÔNICA INJURIADA
O Senado está desmoralizado. Os trens da alegria, as contratações fantasmas, os abusos de privilégios, os gastos indevidos e o mau uso do dinheiro público transformaram o Senado em um antro de corrupção. Mas isso não é de agora, isso é assim desde sempre. Mas só foi possível comprovar isso depois que o governo Lula implantou sistemas de controle e transparência da movimentação de verbas públicas. A maioria dos senadores cometeu atos ilegais, meteu a mão no dinheiro público. O senador Efraim de Morais manteve 52 funcionários-fantasmas em seu gabinete nos últimos quatro anos. Eles seriam oficialmente contratados para trabalhar no Congresso, mas trabalhavam como cabos eleitorais. Em salários, os fantasmas teriam custado R$ 6,7 milhões ao longo do tempo que o senador ocupou o cargo de primeiro-secretário (abrangendo os anos de 2005 a 2009). Agora o portal transparência do senado mostra que Efraim de Morais mantém 57 pessoas em seu gabinete. O senador Heráclito Fortes, do DEM, mantinha a filha de FHC como funcionária fantasma. O senador mineiro Eduardo Azeredo (do PSDB de José Serra e Aécio Neves), pai do mensalão, aparece no mês de maio de 2009 com gastos de R$ 554,10 em um free-shop (Brasif é a empresa dona de free-shops em vários aeroportos brasileiros, que já teve como vice-presidente e conselheiro Jorge Bornhausen). São apenas alguns exemplos dos gastos e contratações fantasmas de alguns senadores. Assisti o Arthur Virgilio na tribuna do Senado, pulando mais que perereca amazônica injuriada, tudo para não ser investigado pelas contratações espúrias, pelos gastos secretos, para posar de paladino da ética. Mas esses senadores fazem parte da oposição feroz e virulenta ao governo Lula, então não interessa à mídia investigar, publicar, cobrar. A mídia quer atingir aqueles senadores que fazem parte da base de apoio ao governo Lula: Sarney, Renan Calheiros. Não que eles sejam anjos, que não tenham, como todos os outros, cometido atos indevidos ao longo de seus anos de senado, mas a mídia, que já derrubou o Renan um vez, agora quer derrubar o Sarney. Os outros podem fazer maracutaias à vontade, a mídia vai poupá-los. Álvaro Dias entregou documentos sigilosos do governo para a mídia, deveria ter sido cassado, mas nada aconteceu, e a mídia fez de conta que esse episódio não existiu. Que moral têm esses senadores para pedir CPI, para investigar seja lá o que for? Nenhuma moral, nenhuma credibilidade, enquanto não for feita uma investigação dos atos espúrios dos senadores pela PF, MPF, todos continuam suspeitos de serem corruptos, de praticarem nepotismo, de meterem a mão grande no dinheiro público. De uma forma ou de outra, todos têm o rabo preso até prova em contrário. Derrubar o Sarney, que foi eleito pela maioria, conforme a regra, é promover um golpe apoiado pela mídia na tentativa de assumirem eles – o DEM, o PSDB e alguns dissidentes invejosos e rancorosos do PMDB, PDT, PTB – o comando do senado, para não aprovar mais nada que seja de interesse do governo Lula, de interesse do povo. Eles contavam com a crise econômica mundial para detonar o governo, mas Lula está superando com muito sucesso a crise daí partirem para nova investida. Só o que não querem é que o presidente Lula chegue a 2010 com sua popularidade astronômica. É o medo de o presidente Lula fazer seu sucessor em 2010.
Jussara Seixas
Postado por Jussara Seixas
Transparência total


A presente crise no Senado traz à tona a necessidade de uma ampla reforma administrativa não só daquela Casa como também nas demais casas legislativas. Na atual quadra, a sociedade brasileira já não comporta procedimentos que não tenham total transparência na aplicação de recursos públicos e nas práticas administrativas. Com as facilidades proporcionadas pela internet, pode-se avançar rumo a uma transparência inédita do Legislativo, o que vai garantir o controle social de toda e qualquer atividade que venha a ocorrer.
A Câmara dos Deputados tomou decisão importante em 2003, quando passou a divulgar a utilização das verbas indenizatórias na web. Tal prática propiciou que viessem à tona situações questionáveis. A internet é uma ferramenta formidável para facilitar o controle social. A transparência total poderá servir também como diretriz para o Executivo e o Judiciário.
Qualquer reforma administrativa do Congresso, nas duas Casas, deve contemplar a rotatividade nas respectivas diretorias – com prazos fixos para ocupar os cargos – bem como a aprovação dos diretores no plenário. Desse modo, cada senador e deputado terá responsabilidade na decisão dos nomes que vão ocupar cargos estratégicos no Congresso.
Estabelecer prazo para os cargos de chefia evita o continuísmo, que gera a perda de controle e de transparência na administração do Senado. É inacreditável o Senado ter um diretor-geral que ocupou o cargo por 14 anos seguidos. Depois de tantos anos, o titular do cargo acaba por se sentir dono do posto.
A Mesa do Senado deve anular atos secretos e discutir os efeitos deles e como reparar danos ao erário. O que viabiliza a honestidade é o controle social, com a transparência. Quando há nepotismo e aparelhamento por interesses pessoais ou partidários, só resta o controle pela sociedade.
Portanto, o debate sobre "ética" soa hipócrita, ainda mais que muitos dos que hoje fazem luta política em cima de uma situação delicada do Senado ocuparam nos últimos oito anos a 1º Secretaria daquela Casa. A estrutura que permitiu a farra dos atos secretos foi forjada num quadro de conchavos e mútua proteção.
Regras compatíveis com o século 21 e com a transparência almejada pela sociedade brasileira poderão servir de base para o Legislativo em geral, reforçando a atividade política e fortalecendo a democracia.
O PT defende a transparência no uso dos recursos públicos. A democracia, como critério de qualidade da governança moderna, demanda esforços para o aperfeiçoamento da vida democrática entre as quais se destaca a reforma política e eleitoral.
O Senado insere-se em qualquer discussão a este respeito, inclusive no tocante ao fim da suplência, pois, hoje, boa parte dos integrantes daquela Casa não teve voto para ocupar a cadeira de senador da República. Não foram referendados pelo voto popular. O orçamento é outro ponto: não faz sentido uma Casa com 81 senadores ter o mesmo orçamento da Câmara, com 513 deputados.
As mudanças são necessárias, pois o Legislativo desmoralizado, além de enfraquecer a política como base para a solução de conflitos, torna-se ainda fonte permanente de atritos com os outros poderes, além de gerar dificuldades à governabilidade para qualquer Executivo.
Ricardo Berzoini, deputado federal (PT-SP), é presidente nacional do PT.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Diario da Palestina (1) - A resistencia cultural palestina


Uma ocupação colonial não é apenas uma ocupação militar. Ela precisa tentar impedir a sobrevivência da cultura, da memória do povo ocupado. Mais ainda quando se trata da ocupação de um povo com uma das mais antigas histórias e mais ricas culturas.
Como era impossível que a Capital da Cultura Árabe pudesse ser Bagdá, pela ocupação das tropas norte-americanas, foi decidido que Jerusalem (que eles chamam de Al-Quds) fosse a Capital da Cultura Árabe de 2009. As comemorações têm sido vitimas das mais violentas e odiosas repressões das tropas israelenses de ocupação. Organizar lindas atividades em torno da cultura árabe passaram a ser um imenso desafio para o Comitê Palestino de Organização, por dificuldades de recursos, de convidar pessoas – poetas, músicos, cantores, artistas do mundo árabe e de outras regiões do mundo - para vir a uma região cercada e ocupada, que deveriam realizar-se nas ruas e praças de Jerusalém.
O ato de apresentação do logotipo dos eventos, programada para ser dar no Teatro Nacional de Jerusalém, em abril do ano passado, foi proibida por Israel, declarado ilegal e reprimido brutalmente por forças militares para tentar impedir sua realização. Foram presos três dos membros do grupo organizador.
Apesar de todas as dificuldades, deu-se inicio às comemorações no dia 21 de março deste ano, com atividades populares nas ruas de Jerusalém, que terminaram com uma noite de fala em Bethlehem. Israel enviou tropas contra crianças que carregavam balões com as cores da bandeira palestina – vermelhas, brancas, verdes e pretas. As tropas de ocupação atacaram os jovens que iam realizar danças tradicionais palestinas, com suas roupas típicas, produzindo cenas de pânico e desespero.
Como reação, todas as escolas, universidades, centros culturais, prefeituras de dentro ou de fora da Palestina, decidiram assumir a celebração organizando atividades sobre a bandeira e o logotipo de Jerusalém Capital da Cultura Árabe de 2009. Centenas de eventos aconteceram em muitos países como mostra de solidariedade e de protesto contra a repressão israelense. Fica claro, cada vez mais, que não se trata da ocupação e da ação militar contra “forças terroristas”, como alegam os ocupantes, mas contra a resistência da cultura palestina.
Os palestinos adotaram o lema: “Jerusalém nos une e não deve dividir-nos”, reforçando a necessidade de união de todos os palestinos para derrotar a ocupação e pela conquista do direito de um Estado palestino, reconhecido pelas Nações Unidas, mas impedida pelos EUA e por Israel.
“Uma vez liberada, Jerusalém não será apenas a inquestionável capital da cultura árabe, mas será a cidade da diversidade cultural e religiosa, da tolerância e do respeito pelos outros. Uma cidade aberta para a paz cujos tesouros históricos e religiosos serão desfrutados por todos, do leste e do oeste. O único muro que a cercará será o muro histórico de sua Cidade Velha e suas 12 portas, incluindo a Porta de Ouro, que uma vez aberta, levará todos os povos do bem para o céu.”
As palavras são de Ragiq Husseini, presidente do Conselho Administrativo do Comitê Nacional pela Celebração de Jerusalém como Capital da Cultura Arabe em 2009. Estar aqui, chegar a Ramallah revela, com toda força, como este é um território ocupado, cruzado por muros que dividem aos próprios palestinos, povoado de tropas e de carros militares, submetendo a este heróico povo à ocupação, à opressão, à humilhação, na mais grave situação de violação dos direitos humanos – políticos, sociais, econômicos, culturais – no mundo de hoje.
Emir Sader é sociólogo e professor.
DN ressalta protagonismo do Brasil no mundo e preparação do PT para vencer em 2010


O Diretório Nacional do PT, reunido em São Paulo nos dias 18 e 19 de junho, aprovou Resolução Política.O documento ressalta protagonismo do Brasil nos grandes foruns mundiais, como o G-20, BRICs e nos da América Latina e a reação positiva do governo federal perante a crise global.
“O Brasil, apesar da torcida antipatriótica da oposição, está conseguindo êxito no combate aos efeitos da crise, através do PAC, do aumento do salário mínimo a expansão do Bolsa-Família e outros programas sociais e do maior programa habitacional da nossa história”, diz um trecho da resolução.
O DN ressalta também no documento que o partido se prepara para enfrentar as eleições em 2010 satisfeito pela grande aprovação do governo Lula, mas consciente de que para chegar à vitória será preciso muita mobilização popular.
Leia a íntegra da Resolução Política:
Resolução Política do Diretório Nacional do PT
O Diretório Nacional do PT, reunido nos dias 18 e 19 de junho, realizou uma análise da situação internacional e brasileira, chegando às seguintes conclusões:
A presença política mais intensa do Brasil nas decisões internacionais e nos organismos multilaterais ampliou-se na conjuntura com a eclosão da atual crise mundial. O protagonismo do Brasil no G-20, nos BRIC, nos diversos fóruns da América Latina, e em outros organismos internacionais indica que está florescendo um novo papel do país no mundo. Destaca-se a necessidade de romper o monopólio do dólar como moeda padrão do comércio internacional, de estabelecer normas de controle do sistema financeiro no mundo, de retomar os organismos internacionais. A maior presença brasileira é a confirmação do acerto da política externa soberana, pacífica e solidária adotada pelo governo Lula, preconizada pelo PT ao longo da história do partido.
O mundo continua sob o impacto da crise internacional. Nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, os indicadores revelam enormes dificuldades para a retomada do crescimento. O aumento do endividamento público está beneficiando no essencial os setores responsáveis pela crise. O desemprego continua crescendo. E, apesar de um outro lance de retórica, os países ricos vêm se revelando incapazes de tomar medidas que construam uma ordem pós-neoliberal, mais justa e democrática. A América Latina também sofre os efeitos da crise, especialmente aqueles países que nos últimos anos mantiveram um alinhamento subalterno aos interesses dos Estados Unidos. A grande diferença é que os governos progressistas e de esquerda existentes em nosso continente trabalham para reduzir o impacto da crise, proteger os interesses das camadas populares, manter as taxas de crescimento econômico e construir as bases democrático-populares de um mundo pós-neoliberal.
Nossa maior presença no mundo reforça a luta pelos ideais de igualdade, pela democracia que respeite e inclua as multidões, pela paz. Embora esta luta continue tendo até aqui vitórias importantes na América Latina e em alguns outros países, persistem gravíssimos problemas em todos os continentes, tais como a guerra norte- americana no Iraque e no Afeganistão, a opressão sobre o povo e Estado palestino, a guerra no Paquistão, os ataques e restrições à democracia em inúmeros países a extrema dificuldade de vida para a maioria dos povos da África. A ideologia capitalista neoliberal e concentradora de renda se encontra na defensiva, mas até aqui isso não se refletiu no êxito de apresentação de alternativas e de suficiente apoio popular da esquerda na Europa, em boa parte talvez pelas concessões feitas à política neoliberal nos governos que exerceu e pelas dificuldades de enfrentar os problemas estruturais do capitalismo europeu.
As tarefas que se apresentam e exigem uma maior presença brasileira são grandiosas. Sua existência reforça a necessidade de uma continuidade desta política externa do Brasil, a partir da vitória deste projeto nas eleições de 2010, contra a tentativa de volta daqueles mesmos que no poder até o final de 2002 deixavam a política externa brasileira submissa aos Estados Unidos e à Europa.
Novas oportunidades para a América Latina se dão também através do projeto de integração regional, que assume cada vez mais contornos reais com a instalação do Parlamento do Mercosul, a consolidação da Unasul e do Banco do Sul. O esforço protagonizado pelos paises governados por partidos populares e de esquerda para o fim do bloqueio econômico a Cuba e por uma política soberana de todos os países do continente, são cruciais para superação da crise e manutenção de vitórias que o campo popular e de esquerda alcançou.
O Brasil, apesar da torcida antipatriótica da oposição, está conseguindo êxito no combate aos efeitos da crise, através do PAC, do aumento do salário mínimo a expansão do Bolsa-Família e outros programas sociais e do maior programa habitacional da nossa história. A inflação está sob controle e a balança comercial reagiu positivamente. Mesmo com a queda enorme do comércio exterior, em alguns segmentos acima de 40%, o mercado de trabalho já está gerando saldo positivo de empregos formais desde fevereiro. O PIB do primeiro trimestre, que analistas projetavam entre 1,5% e 2% negativos, apresentou queda de 0,8%, em razão do esforço para manter o nível de demanda interna, com as decisões relativas à renda e ao crédito interno. O IPEA divulgou estudo que demonstra que, mesmo na crise, prosseguiu a distribuição de renda. A valorização do papel do Estado, do investimento público, do mercado interno e da integração continental não apenas estão conseguindo evitar o pior, como revelam qual o caminho para aprofundar as mudanças iniciadas em 2003. O Brasil ao reduzir a vulnerabilidade externa e acumular reservas cambiais, ao manter a estabilidade inflacionária, ao reduzir e melhorar o perfil da dívida pública, criou condições de resistência à grave crise internacional.
A política econômica anti-cíclica do governo Lula de redução dos impostos, de manutenção do PAC e dos investimentos públicos e a ampliação das políticas sociais e do salário mínimo, assegurou conduzir o Brasil a sair antes e de forma sustentável do quadro de grave recessão internacional.
Outro viés da ação governamental que o caracteriza como descentralizadora da administração pública é a política para com os demais entes da Federação. A disposição de toda a malha de convênios do governo federal aos estados e municípios para que tenham acesso a recursos mediante a apresentação de projetos, é o verdadeiro combate à cultura de servilismo e troca de favores, até então prevalente na relação entre União e entes federados.
O povo brasileiro reconhece e aprova as medidas adotadas pelo governo contra a crise econômica internacional. Não apenas resistimos à crise, como criamos as condições para sair antes. Pesquisas recentes confirmam a alta aprovação do governo Lula. Cresce também o apoio ao Partido dos Trabalhadores. Para 70% dos entrevistados, o PT ajuda o Brasil a crescer. Cerca de 29% apontam o PT como partido preferido, 4% a mais em um ano. Cabe ao Partido, em conjunto com os aliados de esquerda e os movimentos sociais, criar as condições políticas para medidas mais ousadas. O país precisa de uma reforma tributária progressiva e que onere as grandes riquezas, pois estão claros os limites de curto prazo e os efeitos negativos de longo prazo da simples redução de impostos. O Banco Central demorou muito para reduzir a taxa Selic, que segue alta frente aos parâmetros internacionais e frente às necessidades brasileiras. Hoje, como resultado da determinação do presidente Lula e da pressão da sociedade, a taxa atingiu o menor percentual nominal e real da historia, precisando manter a tendência de queda de forma sustentável. O setor bancário privado continua resistindo à determinação do presidente Lula em favor da redução do spread bancário. Quem aje corretamente é o setor público (BB, CEF e Bndes) que barateiam e sustentam o crédito, exatamente por determinação do presidente Lula.
O cenário persistente e longo dos problemas da economia no mundo colocou para o governo dois grandes desafios: dar respostas imediatas aos efeitos da queda no comércio internacional, no mercado de produtos industriais, de bens de capital e da construção, sobre a economia e o emprego; e dar respostas adequadas aos novos problemas estratégicos que vão se avolumando no decorrer da crise.
A conjuntura assiste também a uma ofensiva das forças conservadoras da economia predadora contra o meio natural, justamente num momento em que se revela cada vez mais aguda a crise ambiental no mundo. Iniciativas patrocinadas principalmente por entidades ruralistas comandadas pelos mesmos que fazem oposição sistemática ao governo Lula, atacam, através de projetos legislativos ou de emendas em projetos do governo no Congresso, as reservas naturais, ou tentam legalizar empreendimentos de pessoas jurídicas ou de prepostos que destruíram a floresta, transformando em áreas de comércio terras obtidas pela grilagem. Outras iniciativas inadequadas se somam a estas, quando agentes econômicos colocam o desenvolvimento acima de qualquer cuidado com o ambiente natural, reproduzindo práticas históricas que foram criando a crise ambiental que ameaça o planeta. Inclusive, no âmbito dos estados, essas iniciativas tem se transformado às vezes em leis estaduais que colidem com as leis federais de proteção ambiental.
O PT reafirma seu compromisso histórico com a sustentabilidade socioambiental que o levou a definir-se no Terceiro Congresso como um partido que luta pelo socialismo democrático e sustentável. O Diretório Nacional afirma neste momento conjuntural o seu apoio às valorosas e aos valorosos militantes ambientalistas que nas ações atuais defendem o direito à vida das espécies do planeta e as futuras gerações. E conclama seus parlamentares e seus membros no governo a resistir às iniciativas de curto e médio prazo que prejudicam o equilíbrio socioambiental no longo prazo.
Outro elemento negativo da conjuntura foi a derrota no Congresso mais uma vez das perspectivas de uma reforma política em profundidade, que reforce a identidade dos partidos políticos, de seus programas, práticas e projetos perante a população, afaste o peso do poder econômico nas campanhas eleitorais, torne a democracia brasileira mais próxima da expressão da vontade popular e mais inclusiva para a grande maioria dos cidadãos e cidadãs.
Neste aspecto, o PT reafirma sua decisão do Terceiro Congresso de uma Constituinte Exclusiva para a reforma política. As iniciativas para mudanças pontuais na legislação eleitoral antes do prazo legal de outubro para as próximas eleições, podem alterar positivamente algum ponto aqui outro ali, mas não refletem a necessidade de mudanças estruturais para o aperfeiçoamento da democracia brasileira. A proposta de um Congresso Revisor, assumida pela nossa bancada na Câmara, é apenas parte integrante desta luta por uma Constituinte Exclusiva, em face da falta completa de vontade neste sentido da maioria do Congresso Nacional, que não quer mexer nas estruturas que engessam e elitizam a democracia brasileira. O PT continuará, no curso do Processo de Eleições Diretas este ano e de preparação do próximo Quarto Congresso em fevereiro de 2010, a debater todos os pontos propostos pelo nosso partido para a reforma política.
Outro ponto negativo desta conjuntura é a crise que se abateu sobre o Senado e a Câmara em torno de práticas e privilégios que a população recusa. É hora também de rever as camadas e camadas de vantagens indevidas que foram se acumulando nas Casas Legislativas da República, e que são confundidos muitas vezes com instrumentos necessários para uma eficiente ação parlamentar. Esta bandeira, de forte apelo popular, deve ser uma bandeira dos que lutam contra as flagrantes desigualdades em nossa sociedade, e não pode ficar nas mãos da mídia conservadora, que se fortalece com isso na base popular para suas investidas agora e em 2010 contra os interesses de uma sociedade mais igualitária e participativa. Este tema deve em especial neste momento ser debatido pela Executiva Nacional com as bancadas no Senado e na Câmara, para coordenar nossas iniciativas e atitudes imediatas.
A oposição, com dificuldades para defender suas propostas neoliberais, aposta na judicialização da política, na criminalização dos movimentos sociais e no discurso neo-udenista. Seu factóide mais recente é a CPI da Petrobrás. Sem fato determinado claro, todo o trabalho dos demo-tucanos vai na direção de tentar criar crises midiáticas. No entanto, o resultado mais visível da CPI até agora foi refrescar a memória popular a respeito da implantação do projeto neoliberal de FHC na Petrobras. Fatos como: a repressão brutal à greve dos petroleiros, os graves acidentes operacionais e ambientais, a venda de ações ordinárias da empresa a preços aviltados quando o petróleo estava no seu mais baixo preço, os projetos de venda das fabricas de fertilizantes e refinarias e a bizarra tentativa de mudança do nome da empresa, mostram de forma eloqüente o verdadeiro programa da atual oposição brasileira em relação a Petrobras. Em uma análise comparativa, sobressaem-se os dados extraordinariamente positivos de produtividade, receita, lucro e produção de petróleo no governo Lula, além da retomada da autoestima dos trabalhadores, inclusive com o saneamento do fundo de pensão Petros, objeto de denúncias graves no governo anterior. O governo Lula recuperou o projeto estratégico da empresa que, nunca é demais lembrar, é resultante de um movimento popular, a luta histórica cujo slogan – O Petróleo é Nosso – se tornou um marco da formação da Nação Brasileira. O Petróleo é Nosso, o Pré-Sal é nosso, o Etanol e o Bio Diesel são nossos. O PT, através de sua militância, deve denunciar as tentativas de enfraquecer a empresa e de tentar forjar falsas acusações que só interessam às multinacionais do petróleo. Quem privatizou a Vale, os bancos estaduais e as maiores empresas de energia elétrica do país, quem entregou o patrimônio público nacional, não conseguirá agora convencer o povo brasileiro.
A fortaleza demonstrada pelo governo Lula e pelo PT se reflete nas intenções de voto de Dilma Roussef, que dobraram desde 2008, apesar de 54% dos entrevistados não saberem ainda que ela tem o apoio de Lula para se candidatar à Presidência da República. Nosso êxito na superação da crise, o crescimento do PT e da candidatura Dilma Roussef enfraquecem a oposição, que recorre a um discurso cada vez mais conservador e reacionário. Fica cada vez mais clara a disputa entre projetos antagônicos: de um lado o projeto neoliberal demo-tucano e de outro lado o projeto democrático-popular.
O PT prepara-se para o enfrentamento político de 2010 com satisfação pela alta aprovação de nosso governo, mas consciente de que este é um período de muito trabalho e que nossa vitória depende de mobilização de corações e mentes para esse processo. Precisamos investir no debate ideológico, na mobilização social, no bom desempenho de nossos governos estaduais e municipais, na oposição às administrações neoliberais, na unidade dos partidos de esquerda, na preparação das alianças para disputar as eleições de 2010.
Iniciaremos desde já um debate público sobre os avanços de nosso governo e os desafios que o país precisa enfrentar, para superar mais rapidamente a herança dos governos neoliberais e para implementar um crescimento com distribuição de renda, riqueza e poder. Fazer do debate de diagnóstico e programa de governo, aberto à contribuição de toda a militância do PT, dos partidos aliados e de todos que queiram contribuir, é uma das formas de mobilizar as bases. Entre outras medidas com este objetivo, citamos a reunião convocada pela Comissão Executiva Nacional com o Setorial Nacional de Saúde. No segundo semestre deste ano o PT conclamará a militância, movimentos sociais e a intelectualidade a debater o que fizemos desde 2003 e as metas que buscaremos para o mandato 2011-2014. Mecanismos diversos, entre os quais a internet, devem ser utilizados com este propósito. Um partido ativo, vibrante e dirigente para 2010, será realidade com a base militante participando nos processos de decisão. Por certo, é desejo de todos que haja devida consonância entre a direção e a base do PT.
A qualificação e ampliação da relação do partido com os movimentos sociais requer entendimento mais claro quanto as atribuições do PT e das lideranças dos movimentos. No processo de disputa de 2010 será necessária uma ampla participação dos movimentos sociais na construção do Programa e na mobilização da campanha.
O Brasil tem os meios humanos, econômicos, científicos, tecnológicos, energéticos e ambientais para construir um modelo de desenvolvimento democrático-popular Mas para isso é preciso, além de superar os gargalos estruturais, construir as condições políticas para sustentar este novo projeto. O que passa por eleger Dilma Roussef presidente da República, bem como uma forte bancada no Congresso Nacional, grande número de governadores de estado e parlamentares estaduais.
O PT reafirma sua posição em relação ao chamado terceiro mandato. A insistência de setores da oposição e da mídia em relação ao tema chega a ser patética. Não faremos como o governo demo-tucano, que para não correr o risco de uma derrota nas eleições de 1998, optou por pagar um alto preço para aprovar a mudança das regras do jogo. Nós queremos reeleger o projeto democrático-popular e estamos seguros de que o povo vai dar vitória, mais uma vez, para quem está mostrando que outro Brasil é possível.
Para vencer as eleições de 2010, o PT construirá uma ampla aliança, com base em um programa de governo e compromissos políticos com o país, uma aliança que se consagre nas urnas e que se reafirme na condução do governo. Buscaremos todos os partidos que apóiam o governo Lula para debater este programa, bem como as alianças estaduais e a nacional no primeiro e no segundo turno. Reafirmamos a prioridade estratégica de nossa aliança com o povo, com a intelectualidade progressista, os movimentos sociais e os partidos de esquerda.
Eleger Dilma é condição necessária, mas não suficiente, para conseguirmos aprofundar as mudanças iniciadas desde 2003. Além de vencer a eleição presidencial, precisamos formar uma forte base de governadores petistas e governadores aliados e uma base parlamentar coesa, à altura dos desafios e da confiança do povo brasileiro. Precisamos, em especial, aumentar o número de mandatos vinculados à esquerda, motivo pelo qual nossa disposição de construir alianças não significa que o PT abra mão de seu papel político.
Ao encerrar sua reunião, o Diretório Nacional do PT conclama a militância petista a fazer das eleições internas de 2009 e do IV Congresso de 2010 um grande ato de reafirmação da nossa unidade na diversidade, materializando nossa democracia interna em um debate sobre o programa de governo e sobre o papel do PT, além de renovar nossas direções. Agindo assim, transformaremos nosso aniversário de 30 anos, que comemoraremos em fevereiro de 2010, na grande festa popular da esquerda, dos socialistas, dos trabalhadores, do povo brasileiro.
São Paulo, 19 de junho de 2009
Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores.
A hipocrisia dos “éticos”

Publicado no site da Carta Maior

Quando a indigência analítica é muito grande, torna-se impossível evitar a suspeita de que estejamos diante de um exercício de má-fé. Tornou-se moeda corrente, entre atores de certa esquerda, a acusação de que, chegando ao poder, o Partido dos Trabalhadores abandonou a grande política, definida por Gramsci como aquela que põe em questão as estruturas de uma sociedade, para reproduzir a gramática do poder conservador. Operando em um registro simplificado de abordagem, nossos esquerdistas de salão têm um mérito: demonstram, de forma cabal, que o amesquinhamento do debate não é exclusividade da direita que fingem combater, mesmo se igualando a ela no método e nas formas de ação.
Confundindo, ou fingindo confundir, a primeira eleição presidencial de Lula com o fim da hegemonia neoliberal, argumentam que o PT tinha plenas condições de realizar reformas estruturais, já que os adversários estavam desnorteados. Cabe perguntar se ignoram a capilaridade social dos derrotados nas urnas, suas estruturas clientelísticas e, como já frisamos em vários artigos, que a vitória sobre o candidato da direita necessitou de um amplo leque de alianças que, se bateu forte no conteúdo doutrinário do partido, deixou evidente a necessidade de ampliar os termos dos seus debates internos. O que fariam nossos “bravos companheiros" se tivessem o mesmo capital político do presidente eleito? Que modificações estruturais implementariam?
É grande a semelhança com o argumento dos tucanos quanto ao crescimento do Brasil no período das vacas gordas, ou seja, que o país cresceu, mas poderia ter crescido muito mais se o governo fosse competente. Mas não diziam como fazer para que isso acontecesse. O que propõem afinal os militantes da "esquerda pura"? Uma aventura bem ao gosto do gueto que esperaria a derrota para capitalizar a tragédia?
No atual quadro de correlação de forças, Lula deveria, tal como João Goulart desorientado, atacar, de uma só vez, todos os pilares da estrutura capitalista numa formação social ainda periférica? Em um país onde retirar do baú a velha arma do anticomunismo primário ainda é um expediente que funciona, o governo deveria ter reeditado, com algumas adaptações, as “reformas de base”? Disciplinar a remessa de lucros, desapropriar latifúndios, auditar a dívida pública, contando com o apoio de segmentos militares e núcleos progressistas da burguesia?
Ou Lula não age com mais sabedoria quando aponta que a saída está na ampliação da democracia? No resgate de uma esfera pública antes regulada por corporações multilaterais. Na grande subversão que é, gradativamente, criar condições para que o trabalho ganhe prioridade sobre o capital. É uma tarefa que passa pela reversão de valores arraigados por anos de patrimonialismo. Melhor que ninguém, mais uma vez, cabe ao ex-líder sindicalista objetivar o significado de sua vitória em duas eleições e das esperanças políticas das classes trabalhadoras e dos excluídos.
Nesse contexto, chega a ser engraçado ver a convergência de opiniões sobre a declaração de Lula contrária ao linchamento político do senador José Sarney. “Esquerdistas éticos" e analistas tucanos fingiram espanto, vendo nas palavras do presidente uma legitimação do coronelismo. Quem conhece os efeitos do Bolsa-Família sobre os velhos currais, sabe como estão sendo erodidas antigas formas de dominação.
Faz-se necessário repetir o ensinamento de Gramsci: “É preciso atrair violentamente a atenção para o presente do modo como ele é, se se quer transformá-lo. Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade”. Voluntarismo e oportunismo andam de mãos dadas.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 22 de junho de 2009


Um dos momentos mais triste de nossa histária começa a se desvendado de forma esclarecedora

Curió abre arquivo e revela que Exército executou 41 no Araguaia

No ESTADO DE S.PAULO
Até hoje eram conhecidos 25 casos de guerrilheiros mortos; relato do oficial confirma e dá detalhes da perseguiçãoEXCLUSIVO - Leonencio Nossa, XAMBIOÁ (TO)Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, o oficial vivo mais conhecido do regime militar (1964-1985), abriu ao Estado o seu lendário arquivo sobre a Guerrilha do Araguaia (1972-1975). Os documentos, guardados numa mala de couro vermelho há 34 anos, detalham e confirmam a execução de adversários da ditadura nas bases das Forças Armadas na Amazônia. Dos 67 integrantes do movimento de resistência mortos durante o conflito com militares, 41 foram presos, amarrados e executados, quando não ofereciam risco às tropas. Leia a cobertura completa e a lista inédita dos guerrilheiros mortos no Araguaia em O Estado de S. Paulo deste domingo.
Até a abertura do arquivo de Curió, eram conhecidos 25 casos de execução. Agora há 16 novos casos, reunidos a partir do confronto do arquivo do major com os livros e reportagens publicados. A morte de prisioneiros representou 61% do total de baixas na coluna guerrilheira. Uma série de documentos, muitos manuscritos do próprio punho de Curió, feitos durante e depois da guerrilha, contraria a versão militar de que os mortos estavam de armas na mão na hora em que tombaram. Muitos se entregaram nas casas de moradores da região ou foram rendidos em situações em que não ocorreram disparos. Os papéis esclarecem passo a passo a terceira e decisiva campanha militar contra os comunistas do PC do B - a Operação Marajoara, vencida pelas Forças Armadas, de outubro de 1973 a janeiro de 1975. O arquivo deixa claro que as bases de Bacaba, Marabá e Xambioá, no sul do Pará e norte do Estado do Tocantins, foram o centro da repressão militar.
DESCRIÇÕES
O guerrilheiro paulista Antônio Guilherme Ribas, o Zé Ferreira, teve um final trágico, descrito assim no arquivo de Curió: “Morto em 12/1973. Sua cabeça foi levada para Xambioá”. O piauiense Antonio de Pádua Costa morreu diante de um pelotão de fuzilamento em 5 de março de 1974, às margens da antiga PA-70.
O gaúcho Silon da Cunha Brum, o Cumprido, entrou nessa lista. “Capturado” em janeiro de 1974, morreu em seguida. Daniel Ribeiro Calado, o Doca, é outro da lista: “Em jul/74 furtou uma canoa próximo ao Caianos e atravessou o Rio Araguaia, sendo capturado no Estado de Goiás”. Só adolescentes que integravam a guerrilha foram poupados, como Jonas, codinome de Josias, de 17 anos, que ficou detido na base da Bacaba, no quilômetro 68 da Transamazônica. Documento datilografado do Comando Militar da Amazônia, de 3 de outubro de 1975, assinado pelo capitão Sérgio Renk, destaca que Jonas ficou três meses na mata com a guerrilha, “sendo posteriormente preso pelo mateiro Constâncio e ‘poupado’ pela FORÇA FEDERAL devido à pouca idade”. Curió permitiu o acesso do Estado ao arquivo sem exigir uma avaliação prévia da síntese, das conclusões e análises dos documentos. Ele disse que essa foi uma promessa que fez para si próprio. Passadas mais de três décadas, a história da terceira campanha ainda assusta as Forças Armadas: foi o momento em que os militares retomaram as estratégias de uma guerra de guerrilha, abandonadas havia mais de cem anos. “Até o meio da terceira campanha houve combates. Mas, a partir do meio da terceira campanha para frente, houve uma perseguição atrás de rastros. Seguíamos esse rastro duas, três semanas”, relata. “A terceira campanha é que teve o efeito que o regime desejava.” Um dos algozes do movimento armado na Amazônia, ele mantém um costume da época: não se refere aos guerrilheiros como terroristas, como outros militares. “Em hipótese alguma procuro denegrir a imagem dos integrantes da coluna guerrilheira, daquela juventude”, diz. “O inimigo, por ser inimigo, tem de ser respeitado.” Ele ressalta que, como um jovem capitão na selva, tinha ideal: “Queria ser militar porque queria defender a pátria, achava bonito. Alguns guerrilheiros tinham os mesmos ideais que nós. Mas nossos caminhos eram diferentes. Eu achava que o meu caminho era o correto. Eles achavam que o deles era o correto. Não eram bandidos, eram jovens idealistas”. No livro A Ditadura Escancarada, o jornalista Elio Gaspari diz que “a reconstrução do que sucedeu na floresta a partir do Natal de 1973 é um exercício de exposição de versões prejudicadas pelo tempo, pelas lendas e até mesmo pela conveniência das narrativas”. E emenda: “Delas, a mais embusteira é a dos comandantes que se recusam a admitir a existência da guerrilha e a política de extermínio que contra ela foi praticada”.
MOTIM
Essa política de extermínio fica um pouco mais clara com a abertura do arquivo de Curió. Pela primeira vez, a versão militar da terceira e decisiva campanha é apresentada sem retoques por um participante direto das ações no Araguaia. Curió esteve envolvido no motim contra o presidente Geisel (1977), no comando do garimpo de Serra Pelada (1980-1983), na repressão ao incipiente Movimento dos Sem-Terra no Rio Grande do Sul (1981) e à frente de uma denúncia decisiva no processo de impeachment de Fernando Collor (1992). O arquivo dá indicações sobre a política de extermínio comandada durante os governos de Emílio Garrastazu Medici e Ernesto Geisel por um triunvirato de peso. Na ponta das ordens estiveram os generais Orlando Geisel (ministro do Exército de Medici), Milton Tavares (chefe do Centro de Inteligência do Exército) e Antonio Bandeira (chefe das operações no Araguaia). Curió lembra que a ordem dos escalões superiores era tirar de combate todos os guerrilheiros. “A ordem de cima era que só sairíamos quando pegássemos o último.” “Se tivesse de combater novamente a guerrilha, eu combateria, porque estava erguendo um fuzil no cumprimento do dever, cumprindo uma missão das Forças Armadas, para assegurar a soberania e a integridade da pátria.”
O QUE FOI A GUERRILHA
Em 1966, integrantes do PC do B começaram a se instalar em três áreas do Bico do Papagaio, região que abrange o sul do Pará e o norte do atual Estado do Tocantins. A Guerrilha do Araguaia era composta por uma comissão militar e pelos destacamentos A, B e C. Da força guerrilheira, 98 pessoas pegaram em armas ou atuaram em trabalhos de logística. Deste total, 78 foram recrutadas pelo partido nas grandes metrópoles brasileiras e 20 na própria região do conflito. Entre 1972 e 1974, as Forças Armadas promoveram três campanhas na tentativa de eliminar a guerrilha - só venceu na última. A repressão contou com cerca de 5 mil agentes, incluindo homens das polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar e Civil. O conflito deixou um saldo de 84 mortos, sendo 69 guerrilheiros ou apoios da guerrilha, 11 militares e 4 camponeses sem vínculos com o partido ou o Exército. Vinte e nove guerrilheiros sobreviveram às três campanhas.

sábado, 20 de junho de 2009

Eu continuo fiscal do Sarney

-pequeno exercício de memória histórica atualizada-


Os da minha idade vão lembrar-se do botton aí ao lado. Pra quem não conhece, vou contar parte dessa história. Ela me veio à mente ao ler a notícia de que um deputado renunciou ao seu mandato após denúncias de que funcionários do Parlamento haviam promovido gastos indevidos com verbas públicas. Ele pessoalmente não estava envolvido, os funcionários sequer eram do seu gabinete, mas se declarou envergonhado com a situação e optou pela renúncia.

Pois é, o episódio acima aconteceu... na Inglaterra.

Como não existe pecado no lado de baixo do equador... aqui, pelas bandas do Brasil, o senador José Sarney, atual presidente do Senado, ex-presidente da República, ex-governador do Maranhão, presidente do partido que apoiava o governo militar à época da ditadura, membro da Academia Brasileira de Letras, patriarca de uma dinastia de poder e no poder, há 50 anos presente na história política do Brasil, vai à tribuna defender-se das acusações de, entre outras coisas, ter parentes e apaniguados na lista de beneficiados por “atos secretos”, medidas aprovadas e não publicadas, nos bastidores do Congresso Nacional. As denúncias têm nome, endereço e telefone.

Sarney, indignado, faz veemente discurso. Esclarece, explica, desmente tudo? Nada disso. A frase lapidar da sua fala é a seguinte: “O problema não é meu. O problema é do Senado!”.

Como assim? Para ele, o fato de ocupar pela terceira vez a presidência do mesmo Senado é apenas um detalhe? É problema dos outros?

Sabem de uma coisa, ele tem razão. Sarney está lá pelo voto popular. Ele e tantos outros sarneys, que há muito tempo desviam a riqueza do país para si e para os seus. E como Brasília fica muito longe do Brasil, as medidas para apurar denúncias que por lá abundam demoram a ser implementadas. Esses sarneys estão pouco se lixando para a opinião pública. De vez em quando se permitem uma desculpa, uma justificativa, um gesto de quase humildade. Mas, dessa vez, a investigação tarda pois um dos possíveis responsáveis pela apuração, outro senador, está em licença médica. Fez, recentemente, uma cirurgia para redução de estômago.

Pena não haver uma cirurgia capaz de reduzir também a fome desse pessoal por dinheiro e poder. Ou, quem sabe, para aumentar o nosso estômago, facilitando a digestão dos sapos que somos obrigados, diariamente, a engolir.

Mas voltemos ao Sarney, que, na verdade, tem muitos nomes. E muito dinheiro. Políticos dessa espécie estão no poder há muito tempo. Quinhentos e nove anos, para ser mais preciso. O Sarney de cinco séculos chegou na caravela do Cabral. Aqui desembarcado, promoveu logo um primeiro ato político: com uma missa, tomou posse da ilha de Vera Cruz, em nome de Deus e do rei de Portugal. Fez o sermão. A plateia indígena, perplexa, via, ouvia e nada entendia. Como acontece até hoje.

Após o rito, o saque. A Ilha de Vera Cruz foi rebatizada. O Sarney daquela época dividiu a terra que virou um Brasil fatiado em capitanias hereditárias. Ah, o peso dessa palavra na nossa história; hereditária...

Lá estava Sarney que, servil, serviu a Portugal. Comeu das fartas sobras do poder, dos restos da mesa da corte, sonhando, um dia, sentar-se à cabeceira. Viu a colônia morrer e um império nascer, às margens plácidas do Ipiranga.

E veio a República, que já nasceu fardada, gostou do traje, o que fez brotar, de vez em quando, aqui e ali, um golpezinho, uma revolução, uma ditadura...

Sarney bateu continência a todos e todas. Fez-se presidente de uma tal ARENA, nome significativo para um país que se transformava em um novo coliseu onde a liberdade era jogada aos leões.

Mas, de tanto usada, a faca, um dia, já não cortava. O golpe cansou de se reinventar. Caiu de podre. E quem estava lá para aproveitar a ocasião? Nosso Sarney atual. Chegava, enfim, sua vez de sentar-se à cabeceira da mesa do que ele chamou de Nova República.

O Poder, agora rebatizado de Mercado, mais uma vez deu as cartas. Sarney, como sempre, dava suas cartadas. Inventou um ministro, que inventou um plano mirabolante, congelou preços, confiscou bois no pasto e terminou convocando os fiscais do Sarney, nós, o povo, que nos esquecemos de fiscalizar a velha raposa.

Nada funcionou, a não ser as concessões de Rádio e TV que garantiram ao tarimbado político mais um ano de poder.

Até que, no último mês do seu desgoverno, Sarney saiu pela porta dos fundos do palácio. Deixava as prateleiras vazias e uma conta para o Brasil pagar: 84% de inflação ao mês!!!

Mas qual o que: outro Sarney o substituiu. Atendia pelo nome de Collor, que também inventou ministros, planos e confiscos. Nova estampa, velhos métodos. O novo Sarney, (que de novo só tinha o nome), mudava alguma coisa, para não mudar coisa nenhuma...

E assim caminha a Humanidade...

Será? É nossa herança e destino essa desesperança?

Socorro-me do apóstolo Paulo: “mesmo contra toda a esperança, esperei...”

E vou lhes dar as razões da minha esperança. Por incrível que pareça, acredito que estamos melhorando como civilização, como espécie. O bicho homem se faz, cada vez mais, homo sapiens.

Há pouco mais de 100 anos a cor da pele definia se alguém nascia livre ou escravo. A busca, então, era de abolicionistas, por liberdade. Hoje somos ecologistas, lutando por preservação e sustentabilidade.

O problema é que falamos tanto, jogamos holofote em tantos sarneys, que nos esquecemos que, na História, também houve um Gandhi, um Luther King, um Chico Mendes, gente que lutou por liberdade e direitos, que fez valer princípios como a desobediência civil e a não-violência ativa.

Ficamos tão marcados por esses parasitas insaciáveis que não saem das manchetes que não percebemos que em qualquer criança de seis anos, hoje, há um ser político em construção, capaz de praticar e exigir a prática de uma nova ética.

Há um futuro acontecendo. Estão cada mais ridículos os vândalos, os desonestos e outros idiotas. Os sarneys têm cada vez menos espaço para suas manobras. Ainda se movem, e como se movem, mas seus atos são cada vez menos secretos.

Desculpe essa minha mania de professor de ver, em tudo, a possibilidade de aprender e ensinar. A minha vergonha diante do discurso do Sarney me fez lembrar a vergonha do deputado inglês. Ele renunciou. Eu não. Entro agora na campanha eleitoral.

Renuncio à idiotice do “levar vantagem em tudo”, do “não tô nem aí”, refrão que já foi sucesso nas paradas musicais. Música por música prefiro parafrasear Jorge Ben Jor que cantava: “Se o Sarney soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem...”

Chega de sarneys. O tempo é outro. E a você que desanimou ou nem se animou, lembro uma palavra de Frei Betto:

“Os da minha geração imaginaram, por um momento, que a conquista dos sonhos de liberdade e dignidade coincidiriam com o nosso tempo histórico, o tempo da nossa vida. Hoje, perdi a esperança de fazer parte da colheita, mas não abro mão de morrer semente...”

Para quem é educador, semeador, o tempo da esperança se chama sempre.

Eduardo Machado

19/06/2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009

DE VEZ EM QUANDO É BOM OLHAR NO RETROVISOR PARA ENTENDER O HOJE


Coluna de Celso Lungaretti
O Vandré que eu conheci


"O que foi que fizeram com ele? Não sei
Só sei que esse trapo, esse homem foi um rei"
("Tributo a um Rei Esquecido", Benito Di Paula)

Eu era um adolescente começando a me interessar pela política quando uma música me atingiu em cheio: "Canção Nordestina", do Geraldo Vandré, com aquele seu grito lancinante ("...e essa dor no coração/ aaaaaaaAAAAAAAAIIII!!!!, quando é que vai acabar?") reverberando em todo o meu ser.
Foi meu primeiro ídolo. Acompanhei a consagração da "Disparada" no Festival da Record de 1966, amaldiçoando o Jair Rodrigues por abrir um sorriso bocó no trecho mais dramático ("...porque gado a gente marca,/ tange, ferra, engorda e mata,/ mas com gente é diferente").
Depois, nos estertores d'O Fino, o programa passou a ser conduzido, uma em cada quatro semanas, pelo Vandré (nas outras, se bem me lembro, os apresentadores eram Chico Buarque/Nara Leão, Elis Regina/Jair Rodrigues e Gilberto Gil/Caetano Veloso).
Num de seus programas, o Vandré declamou o "Poema da Disparada", sobre a modorrenta mansidão da boiada, até que um simples mosquito, picando um boi, provoca o estouro, e nada volta a ser como antes. Belíssimo.
Aí o Vandré brigou com a TV Record e saiu da emissora, alegando que um desses seus programas havia sido censurado pelos patrões, por temerem os milicos.
Veio o Festival da Record de 1967 e Vandré, com sua "De Como Um Homem Perdeu o Seu Cavalo e Continuou Andando" ("Ventania"), virou alvo de críticas e maledicências ininterruptas nas emissoras da Rede Record. Diziam até que ele havia contratado uma turba para vaiar Roberto Carlos.
"Ventania" não era mesmo uma segunda "Disparada", mas, sem toda essa campanha adversa, certamente teria obtido classificação melhor do que o 10º lugar.
Aconteceu então aquele 1º de Maio esquisito, em 1968, quando o PCB garantiu ao governador Abreu Sodré que ele poderia discursar tranqüilamente na Praça da Sé.
O ingênuo acreditou e, mal tomou a palavra, recebeu uma nuvem de pedradas dos trabalhadores do ABC e de Osasco, organizados pela esquerda autêntica.
Sodré correu para se refugiar na Catedral... e Vandré foi fotografado ajudando Sua Excelência a escafeder-se!
A foto saiu na capa da Folha da Tarde e fez com que muito esquerdista virasse as costas ao Vandré.
No final de junho/68, os operários de Osasco tomaram pela primeira vez fábricas no Brasil (em plena ditadura!). A reação foi fulminante, com a ocupação militar da cidade.
Os estudantes, por sua vez, ocuparam a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, na rua Maria Antônia, para mantê-la aberta durante as férias de julho, prestando apoio à greve de Osasco.
O Vandré apareceu lá numa noite em que estava marcada uma assembléia para tratar desse apoio estudantil à greve. Foi hostilizado pelos universitários. Lembro-me de uma fulaninha gritando sem parar: "traidor!", "traidor!".
Eu estava lá com companheiros secundaristas da Zona Leste, todos admiradores do Vandré. Então, nós nos apresentamos e fizemos o convite para vir conosco ao bar da esquina, oferecendo-lhe a oportunidade para retirar-se de lá com dignidade, e não como um cão escorraçado.
Bebemos, papeamos horas a fio, apareceu um violão e rolaram algumas músicas.
Lá pelas tantas, o Vandré mostrou uma letra rascunhada e cheia de correções, que ele escrevera numa daquelas folhas brancas de embrulhar bengalas (pão). Era a "Caminhando", que tivemos o privilégio de conhecer ainda em gestação.
É importante notar que ele fez a "Caminhando" exatamente para responder aos esquerdistas que o estavam hostilizando. Quis lhes dizer que continuava acreditando nos mesmos valores, que nada havia mudado.
Perguntamos por que ele havia socorrido o Sodré. A resposta: "Nem sei. Estava tão bêbado que não me lembro de nada que aconteceu".
Na verdade havia amizade entre ambos, tanto que o Vandré, meses mais tarde, encontraria abrigo no Palácio dos Bandeirantes, onde o próprio Sodré o escondeu quando a repressão estava no seu encalço.
Mas, não ficava bem para um artista de esquerda admitir publicamente que mantinha relações perigosas com um governador da Arena, partido de apoio à ditadura.

"HÁ SOLDADOS ARMADOS, AMADOS OU NÃO"

Naquele Festival Internacional da Canção da Rede Globo, "Caminhando" foi uma das cinco classificadas de São Paulo para a final nacional no Rio. O que chamou mais a atenção por aqui foi a não-classificação de "Questão de Ordem", do Gil, e o desabafo de Caetano Veloso, que acabou retirando sua "É Proibido Proibir" do festival em solidariedade ao amigo (depois de detonar o júri "simpático, mas incompetente" com um discurso célebre, que acabou sendo lançado em disco com o nome de "Ambiente de Festival").
No Rio, entretanto, o clima era outro. Numa manifestação de rua, a repressão acabara de submeter estudantes a terríveis indignidades (os soldados chegaram a urinar sobre os jovens rendidos e a bolinar as moças). Isto despertou indignação geralizada na cordialíssima cidade maravilhosa.
O III FIC aconteceu logo depois e os cariocas adotaram "Caminhando" como desagravo. Vandré teve muito mais torcida lá do que em SP. Quando ele reapresentou a música, já como 2ª colocada, os moradores de Copacabana abriram as janelas de seus apartamentos e colocaram a TV no volume máximo. Cantaram juntos, expressando toda sua raiva da ditadura.
Reencontrei Vandré por volta de 1980, quando eu estava colaborando com várias revistas de música. Propus-lhe uma entrevista, que ele não quis dar: "Não tenho disco nenhum para lançar, para que falar à imprensa?".
Acabamos indo (eu e minha companheira de então) ao apartamento do Vandré na rua Martins Fontes e papeando durante horas -- mas em off, ou seja, com o compromisso de nada publicar.
Reparei que ele continuava lúcido, ao contrário das versões de que teria ficado xarope por causa das torturas. Mas, perdera a concisão e clareza. Seus raciocínios faziam sentido, mas davam voltas e voltas até chegarem ao ponto. Para entender a lógica do que ele dizia, eu precisava ficar prestando enorme atenção. Era exaustivo.
O mais importante que ele disse: estaria na mira de organizações de extrema-direita, inconformadas com o gradual abrandamento do regime.
A censura finalmente liberara "Caminhando", que fazia sucesso na voz de Simone. Vandré explicou que tinha de passar-se por louco pois, se ele tentasse voltar ao estrelato junto com a música, seria assassinado.
Insistiu muito em que não se apresentaria no Brasil enquanto o País não oferecesse garantias legais aos seus cidadãos. Realmente, algum tempo depois, soube que ele marcara um show para uma cidade paraguaia fronteiriça com o Brasil. Quem foi lá vê-lo? Brasileiros, claro...
Quando estudava na ECA/USP, eu fiz um trabalho de teleteatro de meia hora baseado nos personagens e no clima da música "Das Terras de Benvirá" -- sobre uma comunidade de refugiados brasileiros decidindo se já era hora de voltar para a patriamada ou não. Minha pequena contribuição àquele momento (1979) da anistia.
Conheço quase toda a obra do Vandré. E considero o LP francês, "Das Terras de Benvirá", uma pungente obra-prima.

"SEM TER NA CHEGADA QUE MORRER, AMADA"

Quanto à promiscuidade com milicos depois de sua volta do exílio, a canção composta em homenagem à FAB e as declarações negando ter sido torturado, a minha opinião é que ele não conseguiu suportar a realidade de que não se comportara heroicamente.
Em várias músicas (como "Terra Plana", "Despedida de Maria" e "Bonita"), o personagem central era um guerrilheiro. As canções, narradas sempre na primeira pessoa. Ou seja, saltava aos olhos tratar-se do papel que sonhava ele mesmo vir a representar na vida real.
Mas, claro, o Vandré não foi para a guerrilha nem parece ter passado pela prova de fogo nos porões da ditadura com o destemor desejado. Além disto, não aguentou viver muito tempo fora do Brasil e voltou com o rabo entre as pernas. Com certeza, negociou com os militares para poder desembarcar "sem ter na chegada/ que morrer, amada,/ ou de amor matar" ("Canção Primeira").
A minha impressão é que, nordestino e machista, ele não aguentou admitir que fora quebrado pela tortura e pelos rigores do exílio. Então, preferiu desconversar, embaralhar as cartas, descaracterizar-se como ícone da resistência. Enfim, um caso que só Freud conseguiria explicar (e esgotar).
De qualquer forma, aquele artista que tanto admiramos foi assassinado pelos déspotas, da mesma forma que Victor Jara e Garcia Lorca. Sobrou um homem sofredor, que merece nossa compreensão.

Jornalista, escritor e ex-preso político, Celso Lungaretti mantém os blogs
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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Quinta-feira, Junho 04, 2009

Racha1


Racha entre Couto e Jatene ameaça PSDB ( I)



I

Sem rumo e sem dinheiro, após a derrota nas eleições de 2006, o PSDB corre o risco de chegar aos pedaços, nas eleições do ano que vem.


A temperatura da disputa interna que agita os tucanos pôde ser medida num almoço, no último sábado, na casa do senador Mário Couto, no Residencial Parque Verde.


Nele, Couto deixou claro que não arreda pé de sua candidatura ao Governo do Estado. E teria acusado de traição, com todas as letras, ao ex-governador Simão Jatene – o outro candidato que disputa a indicação tucana ao Palácio dos Despachos.


Na sua versão para o fracasso de 2006, que contou nos mínimos detalhes, o senador teria afirmado que Jatene traiu a ele, Mário Couto, e a Almir Gabriel, o candidato derrotado pela petista Ana Júlia Carepa.


E teria revelado, inclusive, um acordo de bastidores, no qual ele, Couto, seria o candidato do PSDB, nas eleições de 2010, caso Almir tivesse conseguido se eleger.


O senador também teria puxado do bolso do colete uma pesquisa de intenções de votos em que aparece como o vitorioso do próximo pleito.


Na pesquisa, não há, sintomaticamente, menção a Simão Jatene; os possíveis concorrentes são, apenas, a governadora Ana Júlia, pelo PT, e o ex-deputado federal José Priante, pelo PMDB.


Couto venceria “de lavagem” em todo o interior. Só perderia na capital, por 36% a 26%, para José Priante. Ana ficaria em terceiro, em Belém, com esquálidos 13%.


A pesquisa foi exibida num telão, no auditório da casa do senador. O almoço durou umas cinco horas, das 11 às 16.


Reuniu duzentas lideranças políticas de diversos partidos, entre prefeitos (30), vice-prefeitos e vereadores.


Mas, os “generais” foram parcos: apenas o senador Flexa Ribeiro, presidente regional do PSDB; o deputado federal Nilson Pinto e a ex-primeira dama Socorro Gabriel, representando o ex-governador Almir Gabriel.


“Foi constrangedor”, disse um participante do encontro, espantado diante do nível a que chegou a disputa interna entre os tucanos. Outro chamou a atenção para a situação do também senador Flexa Ribeiro: “ele está numa situação muito delicada. Como presidente do partido, tem de ouvir todo mundo e não pode tomar o partido de ninguém”.


O almoço (um bufê que oferecia de filé a vatapá) seria, na verdade, a “entrada” ao prato principal: o casamento de Mário Couto, agora em junho, em Belém.


Nos bastidores políticos, as apostas são de que Couto transformará o casório num evento político, possivelmente com o lançamento de sua pré-candidatura ao Governo Estadual.


O “casamento do ano”, é claro, deverá contar com a presença de Almir Gabriel, hoje, arquiinimigo de Simão Jatene.


II


Não se sabe como Jatene reagirá à agressividade de Mário Couto.


Para alguns, Jatene estaria disposto a “bater chapa” na convenção que escolherá o candidato do PSDB.


Mas, quem conhece de perto o ex-governador acredita que ele jamais entrará “em bola dividida”.


Aliás, Jatene já teria até cogitado, a pessoas muito próximas, a possibilidade de se filiar ao PMDB, para disputar o Governo pela legenda.


Tudo devido à crescente irritação com a postura de Almir, o principal avalista de Mário Couto.


No entanto, pensam alguns, o problema é que Jatene seria, hoje, o principal adversário dele mesmo.


Com um proverbial apreço pela pescaria e o violão, Jatene nunca foi muito afeito ao trabalho estafante e aos cabos-de-guerra intrapartidários.


Mesmo a sua candidatura, em 2002, foi um parto a fórceps.


Primeiro porque não aceitava ser visto como um simples postulante à candidatura ao Governo, embora que apoiado pelo então governador, Almir Gabriel.


Queria ser, antes, uma espécie de “Ungido”, um consenso “natural” inter pares...


Além disso, relutava em trocar os finais de semana, em algum lugar paradisíaco, pela estafante maratona de viagens interioranas.


Por isso, teve de ser praticamente “carregado nas costas”, ao longo de toda a campanha, por Almir Gabriel.


Essa postura de Jatene se estendeu aos quatro anos de sua administração – cujos finais de semana, aliás, se tornaram comentadíssimos nas cortes palacianas...


Daí a dúvida: sem Almir, com os cofres vazios e um partido dividido – quer dizer, num quadro inverso ao de 2002 – teria Jatene capacidade de se levantar do fundo de sua rede “macunaímica”, para, afinal, disputar a indicação e a eleição ao Governo do Estado?


Ou Jatene se encolherá em seu canto, pelo terror que parece sentir em relação a qualquer disputa?



III


É possível que, já a partir deste Verão, o PT inunde o estado com obras, numa cartilha bem semelhante a dos governos anteriores, que sempre deixaram as realizações para as proximidades do período eleitoral, tendo em vista a efêmera memória do eleitor.


É possível, também, que se derrame mais e mais dinheiro em propaganda, a partir do próximo semestre - um “modelito básico”, também semelhante aos anteriores.


Tudo temperado pelo quadro nacional, que pode, talvez, até trazer de volta um “sopro vermelho” sobre o País.


Daí que, apesar do desgaste, não dá para falar em “derrota certa” do PT, nas eleições ao Governo do Estado.


Até porque não há derrota ou vitória “certa” numa eleição.


Certo, mesmo, é que a desagregação tucana poderá facilitar, e muito, a reeleição petista.


E nesse sentido tem sido devastadora a ação do ex-governador Almir Gabriel.


Birrento e autoritário – características que parecem acentuadas pela idade - Almir estaria, hoje, exclusivamente movido pelo ódio a Jatene, com quem foi “unha e carne” ao longo de trinta anos, desde os tempos da Prefeitura de Belém.


O velho cacique tucano teria metido na cabeça que Jatene foi o principal responsável pela derrota de 2006.


Uma leitura, afinal, condizente com o perfil de Almir.


Mas que não encontra amparo numa análise fria daquele pleito, na qual quem emerge como o grande artífice da derrota tucana é, na verdade, o próprio Almir Gabriel.


Primeiro, por vetar qualquer possibilidade de acordo com a máquina de votos que é o PMDB.


Segundo, por insistir numa empreitada muito superior ao que lhe permitiria a idade avançada.


É certo que Jatene também colaborou para isso, com o seu espírito “tímido”, digamos assim, que não lhe permitiu a necessária firmeza para garantir a candidatura à reeleição.


Ontem, como pode ocorrer também agora, Jatene não quis entrar em “bola dividida”.


Em outras palavras, simplesmente “amarelou” diante da possibilidade de bater chapa com Almir, o que teria, certamente, resultados imprevisíveis para a unidade partidária. Mas, possivelmente, não tão desastrosos como aqueles que acabaram se configurando.


Mesmo assim, não há quem duvide de que foi Almir a cavar a própria sepultura.


Devido à megalomania de acreditar-se acima até mesmo desse inexorável general que é o Tempo.


Devido à proverbial arrogância que não lhe permitiu pendurar as chuteiras no momento certo, após dois mandatos de governador, profícuos em realizações.


E devido, também, a essa mania de fazer política de perseguição e de ódio, em relação aos eventuais adversários.


Não se descarta a possibilidade de que Jatene, nas eleições de 2006, tenha “jogado”, de fato, para derrotar Almir – especialmente se for verdadeiro esse acordo de bastidores, para a candidatura de Mário Couto, em 2010.


Talvez por uma questão mais política, tendo em vista o retrocesso que Almir representaria para o estado do Pará, devido a essa notória incapacidade de conviver com o contraditório.


Ou, talvez, por uma questão bem humana, bem pragmática: o ganho político intrapartidário de Jatene e de seu grupo, a partir da derrota de Almir.


Nada disso, porém, justifica a ação nociva de Almir, que parece preferir até a derrota do PSDB, desde que isso signifique o enterro da carreira de Jatene.


É como se pretendesse arrastar o ex-amigo para o túmulo.


Como espécie de bode expiatório aos próprios erros.


Inclusive, aqueles que resultaram na prisão de seu filho, Marcelo Gabriel.



IV


Mário Couto, que pleiteia a indicação tucana ao Governo do Estado, sempre foi um político complexo.


Sua principal qualidade é a determinação, para a conquista daquilo a que julga ter direito.


De resto, sempre passou aos agentes políticos a imagem de um amontoado de bazófias.


Ao longo de vários mandatos na Assembléia Legislativa, Couto protagonizou cenas deprimentes, por vezes, quase chegando ao pugilato.


Na Presidência da Casa, celebrizou-se por contratações milionárias, ainda hoje não devidamente esmiuçadas.


Uma performance política em tudo compatível com a trajetória do cidadão Mário Couto, suspeito, na juventude, de envolvimento em diversos ilícitos.


O hoje senador é, portanto, um imenso telhado de vidro. Tanto mais frágil diante do aperto do Judiciário e do olhar cada vez menos tolerante da sociedade.


Além disso, é improvável que as suas bravatas folclóricas possam surtir bom efeito, num debate televisivo.


É difícil que os eleitores engulam as grosserias que, certamente, “produzirá” contra a governadora – quer se goste ou não, mulher e carismática.


Daí a conclusão de que Mário Couto é o adversário dos sonhos do PT.


Porque é o oposto do frio e educado Jatene, com o seu raciocínio rápido e extraordinário domínio da máquina pública.


Couto terá vários e bons flancos para o ataque petista, especialmente numa campanha ao Executivo, na qual os pesos e as medidas do eleitor são muitíssimo diferentes daqueles usados nas eleições ao Legislativo.



V



O apetite de Mário Couto, o ódio de Almir Gabriel e a “timidez” de Jatene deixarão marcas profundas no PSDB, qualquer que seja a decisão dos convencionais, no ano que vem.


Até porque essa é a primeira grande divisão, de fato, na história dos tucanos paraenses.


E, ao contrário dos embates que sacudiram o PT, em 2006, aqui não se trata de nobres diferenças estratégicas à conquista do Poder.


O que há, no PSDB, é um amontoado de quizílias, em torno de ambições e fantasias pessoais.


É o velho líder que se transformou em alma penada, para escapar à responsabilidade de seus atos – mais ou menos como o “Maktub” que respondia, quando lhe indagavam acerca do massacre de Eldorado dos Carajás.


É o sujeito que representa o fundo do poço, em termos éticos, do PSDB no Pará. Mas que não se detém diante de coisa alguma. Até por imaginar o Estado, talvez, como simples banca a dominar.


É o cidadão que treme de medo, de ansiedade, cada vez que tem de se submeter a alguma prova. Como se a possibilidade de derrota não fosse coisa a lidar, todos os dias, ao longo da vida.


Os três, igualmente se lixando para o PSDB, desde sempre uma estrutura política fragilizada, porque sem massa, sem raízes nos movimentos sociais e que, por isso mesmo, demonstra enorme dificuldade em sobreviver longe do Poder.


Os três, por suas ações ou omissões, a engendrarem, talvez, mais uma acachapante derrota dos tucanos, no Pará.

Postado por Ana Célia Pinheiro às 22:31