domingo, 14 de fevereiro de 2010

POEMA DE LUIS FERNANDO VERÍSSIMO



DAR NÃO É FAZER AMOR

Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.

Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.

Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar

Experimente ser amado...

Luís Fernando Veríssimo
Em SP, Serra chama manifestante de... ‘energúmeno’


A coisa aconteceu na cidade de Guararapes, no interior de São Paulo. Consta de notícia veiculada na Folha.

O governador tucano José Serra discursava numa cerimônia de entrega de 57 ônibus escolares.

A certa altura, Serra pediu apoio aos prefeitos da região, para instalar hospitais preparados para atender portadores de deficiência física.

Um grupo de manifestantes do sindicato dos professores fazia barulho. Munidos de apitos, tentavam sufocar o discurso.

A certa altura, um dos integrantes da turma do apito pôs-se a dirigir impropérios a Serra. O presidenciável tucano abespinhou-se:

"Esse energúmeno é contra o atendimento dos cegos, é contra os deficientes físicos, é contra os ônibus escolares [...]. É contra tudo e todos".

A maior parte da platéia aplaudiu. Os manifestantes trocaram o silvo dos apitos pela vaia. Policiais trataram de retirar o “energúmeno” do local. Alegou-se que ele desacatara o governador.

Serra disse que estava na cidade a trabalho, não em “campanha”, como os manifestantes.

Antes do sururu de Guararapes, Serra estivera em São Luiz do Paraitinga, uma das cidades mais afetadas pelas chuvas que infelicitam o Estado.

Entregara a moradores cheques de R$ 900. Dinheiro do programa Novo Começo. Um auxílio emergencial às famílias desabrigadas.

"Se depender de mim, ele será presidente", disse a dona de casa Alessandra Fernandes, uma das beneficiárias.

Campanha fora de época? Ex-ministro do TSE, o advogado Fernando Neves acha que não. Só haveria afronta à lei eleitoral, diz ele, Se houvesse pedido explícito de voto.

Como Serra não chegou a tanto, a coisa passa, no dizer do especialista, por "atividade de governo".

Então, tá! Mas não custa lembrar que os cheques poderiam chegar às mãos necessitadas por outras vias. Uma remessa bancária, por exemplo.

Aliás, não parece razoável supor que Serra vá entregar, um a um, os cheques destinados aos flagelados. Ele não teria tempo para mais nada.

Fonte: Blog do Josias