quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

LULA UM LÍDER MUNDIAL

Segunda-feira, Janeiro 04, 2010

Para o que vai nascer

Um texto de Castagna Maia, saudando um novo tempo que virá:


Arrematando

E Copenhagen acabou sendo um fracasso. A culpa foi dos Estados Unidos da América, e o papel de vilão ficou reservado a Obama. Em um primeiro momento, China e EUA dividiriam a culpa pelo fracasso da conferência mundial sobre o clima. No momento seguinte, sobrou exclusivamente para os EUA. A culpa do fracasso é dos Estados Unidos da América.


II
E o Brasil? O Brasil foi extraordinário na conferência. Claro, há o pitoresco de sempre, os papagaios de pirata que foram para lá tão somente para aparecer, um turismo de luxo. Houve a presença até mesmo da Senadora Kátia Abreu, do PFL de Tocantins, sempre associada ao desmatamento e ao trabalho escravo. Houve de tudo, um festival de busca de fotografias. Mas o que interessa é a posição do Brasil, do Estado brasileiro.


III
E o Brasil foi muito bem. Lula nos representou de forma extraordinária. E Lula apaixonou, sim, o mundo. Quando as negociações estavam apontando para a frustração, foi Lula quem fez um discurso tocante, apaixonado, que calou o plenário, que envergonhou os que apequenavam a discussão.


IV
Lula é, sim, um líder mundial. Há pouco, foi escolhido pelo jornal Le Monde, da França, como a grande personalidade do ano. Dias antes foi capa do espanhol El Pais, com direito a um texto de Zapatero sobre Lula. Repito: Lula é, hoje, sim, um líder mundial. Vou adiante. Lula é, hoje, um grande líder mundial.


V
Em um mundo cinza, de poucos líderes e muitas vaidades, a autenticidade de Lula o destaca. Não é um almofadinha vassalo, como FHC, sempre pronto a usar seus dons de poliglota para falar mal do Brasil e de suas origens, sempre envergonhado de seu País, como se fosse melhor do que ele. Um típico provinciano que, saindo de sua cidadezinha, deita a falar mal do lugar de onde veio. Com Lula não é assim. Lula é admirado. E a miséria no Brasil efetivamente diminuiu.


VI
É preciso dizer isso, aqui. A miséria diminuiu, a Bolsa Família consegue, sim, tirar da miséria absoluta alguns milhões de brasileiros. Que seja assistencialista, mas não há como deixar de ser assistencialista quando se enfrenta uma massa jogada à animalidade a partir da absoluta carência em que foi mantida. O Bolsa Família é um sucesso, e vem transformando a face do Brasil. A economia se movimentou particularmente nos setores que vendem para as camadas mais pobres. O dinheiro da Bolsa Família se transforma em arroz, feijão, farinha, em tecido, em roupas, até mesmo em algum eletrodoméstico. Isso tudo movimenta a economia de uma forma diferente: é a economia que gira a partir das camadas mais pobres.


VII
Há erros enormes no governo Lula. Cito, aqui, mais uma vez, as taxas de juros, ainda mantidas em um patamar que sacrifica nosso comércio e nossa indústria. Cito a visão tacanha na previdência complementar, onde o projeto neoliberal de FHC simplesmente foi aprofundado. Cito a falta de uma visão sistêmica do sistema financeiro, embora a melhora ocorrida a partir da crise mundial. Cito a falta de uma política industrial efetiva, dentre outras coisas.


VIII
O Brasil quebrou três vezes no governo FHC. Na última, pediu 40 bilhões de dólares emprestados ao FMI. E em contrapartida alterou o monopólio estatal do petróleo para entregar boa parte de nossas riquezas às multinacionais. O País inteiro pagou o preço da incompetência e do entreguismo daquele governo. Ou seja, é preciso reconhecer, sim, que comparado ao governo FHC, o Brasil saiu do inferno no governo Lula.


IX
Não estou sendo generoso. Falo até mesmo em relação aos aposentados. No governo FHC, o tal “rolo compressor” implantou a reforma da previdência, aí incluído o Fator Previdenciário e adoção da terrível média para o cálculo das aposentadorias, envolvendo as 80% maiores contribuições. A discussão, hoje, tem outro patamar: é a de recuperação de perdas, é de inflação mais alguns pontos percentuais visando recuperar. Ou seja, há, sim, diferença.


X
Claro, poderia ser melhor. É preciso acabar com aquela média absurda e adotar outra fórmula. É preciso, ainda, acabar com o fator previdenciário. É preciso dar um norte para a previdência pública e para a previdência complementar. O que estou dizendo é que, em 1997, lutava-se contra a implantação de mecanismos que trariam, e trouxeram, perdas. Hoje, luta-se para recompor os valores. Há um ganho de qualidade na discussão. Houve, sim, melhora, não a que queríamos, mas houve.


XI
A crítica ao governo não pode ser insana. Não foi o atual governo que implantou o fator previdenciário, nem a média absurda; não foi o atual governo que fez a reforma da previdência de 1998 e que atingiu pesadamente a previdência complementar; não foi o atual governo que alterou a Constituição Federal para entregar bacias petrolíferas às multinacionais, embora tenha feito vários leilões; não foi o atual governo quem autorizou o financiamento de apropriação indébita de patrocinadoras de fundos de pensão. Em síntese, é preciso criticar, sim, o governo, mas criticar no que está errado para que não se faça coro exatamente com aqueles que querem privatizar o Estado, que querem privatizar a previdência, que querem rebaixar os valores das aposentadorias.


XII
Qual a crítica da imprensa? A de que os gastos públicos aumentaram. Sabe o que significa isso? Que, na opinião da imprensa, não deveria ter havido contratação de funcionários públicos – aí incluídos médicos, professores, fiscais do trabalho e da saúde; não deveria ter havido qualquer recomposição de aposentadoria, ainda que mínima. Não deveria ter ocorrido investimento estatal para minimizar os efeitos da crise internacional.


XIII
Ou seja, a crítica da imprensa é voltada contra os interesses do povo e na tentativa de restabelecer toda a lógica do governo FHC. Se dependesse deles, o Estado seria mínimo, a aposentadoria seria privatizada, o teto da previdência seria de 3 salários mínimos.


XIV
Pois bem: é essa mesma imprensa que buscou debochar da posição brasileira em Copenhagen, que escondeu as elogiosas referências mundiais ao Presidente do Brasil. Foi uma vergonha completa, uma manipulação brutal de informações, um apanhado de críticas improvisadas, onde a imprensa não tem o papel de informar: seu papel é fazer oposição, o de levantar bandeiras que sequer a oposição verdadeira – a que foi eleita para isso, já que a imprensa não recebeu um voto sequer – se atreveu a levantar. Ou seja, a oposição brasileira está sem bandeira porque o modelo de FHC ficou desnudo: era aquilo mesmo, uma catástrofe entreguista, antinacional e antipovo. E não conseguiu superar aquela herança perversa de um governo que naufragou atolado na corrupção das privatizações — origem de Daniel Dantas.


XV
Ou seja, a oposição ainda busca um caminho, e foi eleita para isso. A imprensa, no entanto, assume o papel de oposição e, como não são profissionais da área, saem a fazer qualquer besteira, a repercutir qualquer idiotice. Foi assim com a febre amarela, foi assim com a tal denúncia da moça da Receita Federal. E foi assim, agora, em Copenhagen. Confundiram fazer oposição a Lula com fazer oposição ao Brasil. E fizeram oposição ao Brasil.


XVI
O Brasil foi festejado no exterior. Lula levou ao mundo nosso jeito afetivo, e levou de forma autêntica. O Brasil ficou mais próximo do seu verdadeiro tamanho internacional. E chegou mais perto disso pelas mãos de quem tem pouco estudo formal, para desespero dos provincianos maledicentes que se aproveitam de qualquer oportunidade para falar mal do próprio País. O Brasil sai de Copenhagen muito mais próximo do seu verdadeiro tamanho de gigante.


XVII
Pena que Lula seja muito melhor do que o PT, pena que Lula seja muito melhor do que o seu próprio governo. Não raro as conversas com ministros são decepcionantes. Não trazem inspiração, grandeza, altivez, autenticidade. Freqüentemente fala-se apenas com um poço de vaidades em formato de gente.


XVIII
No fundo, não nos interessa Lula, que já está indo embora. Interessa é que o Brasil vai se aproximando do seu papel mundial, interessa é que houve, sim, diminuição da miséria. E interessa separar as coisas, criticar o que está errado sem fazer coro com os interesses daqueles que querem o retorno das velhas políticas entreguistas do governo FHC.